O padre Eugénio Butti é o superior da comunidade de Fátima há sete anos. Com 63 de idade e 42 de consagração, é natural de Valmadrera, diocese de Milão, em Itália. Pedimos-lhe uma partilha sobre a sua vocação à vida religiosa.
Quero iniciar o relato da minha experiência vocacional recordando um momento muito importante da minha infância e que reconheço estar na origem da minha vocação. No dia da Primeira Comunhão, depois de ter recebido Jesus Eucaristia, minha mãe sugeriu-me que fizesse esta oração: “Se quiseres, Jesus, podes chamar-me para ser um teu sacerdote”. Sem entender plenamente o sentido de tudo isso, mas em obediência à minha mãe, fiz com toda a sinceridade o pedido a Jesus.
E foi aos 16 anos, através de uma experiência rica e memorável com o grupo de adolescentes e jovens do Oratório da minha paróquia de origem, que aquele pedido foi atendido e a voz de Deus começou a falar alto no meu coração.
Durante uma semana de férias nas montanhas, fiquei fascinado pela beleza da criação que nos envolvia a todos, mas também pela beleza do espírito de fraternidade vivido no grupo. É a partir desta experiência de vida em grupo na paróquia, alimentada pela oração, sob a orientação espiritual do sacerdote que nos acompanhava, e também graças ao testemunho de um nosso conterrâneo e jovem sacerdote, missionário da Consolata que foi às missões de Roraima, Brasil, que foi delineando-se com cada vez mais clareza a minha vocação missionária.
Antes de ingressar no seminário dos Missionários da Consolata, de dia trabalhava numa fábrica de máquinas para padarias e, à noite, frequentava o curso profissional de desenhista mecânico. Dentro do meu coração, porém, a voz de Deus que me convidava a entregar-lhe totalmente a minha vida fazia-se sempre mais forte. Ajudado no meu discernimento espiritual pelo sacerdote que nos acompanhava na paróquia, mas também pela coragem de uma minha irmã mais velha que tomou a decisão de entrar num convento, cheguei à conclusão de que devia eu também decidir-me e dar a minha resposta ao Senhor que me chamava. Não foi fácil: devia renunciar à possibilidade de exercer a profissão de desenhista, mas também ao desejo de um dia tornar-me maquinista de comboios, que sempre, desde criança, se aninhava no meu coração.
A voz de Deus, porém, foi mais forte; com 18 anos de idade, ingressei no Instituto dos Missionários da Consolata. Terminados os anos da formação e dos estudos da filosofia e teologia, fui ordenado sacerdote na pequena paróquia de Vallo Torinese, perto da cidade de Turim e, seis meses após a ordenação sacerdotal, fui enviado para o Brasil, onde fiquei 30 anos inesquecíveis.
Resumi-los em poucas linhas, não me é fácil: 10 anos dedicando-me à formação de jovens seminaristas da Consolata, na região de Rio Grande do Sul e Paraná; 10 Anos na atividade pastoral direta, como pároco em São Paulo e Cascavel (Paraná); 10 anos ao serviço do Instituto como ecónomo da nossa província brasileira.
Do Brasil, voltei para a Europa, para Portugal, onde há 7 anos estou em Fátima como superior da comunidade dos Missionários da Consolata.
Foram 37 anos de vida missionária: vividos em diferentes latitudes e em contacto com diferentes realidades; alimentando, com o anúncio da Palavra e a oferta do Pão da Vida, muitas comunidades; vivendo muitos momentos de alegria, mas também passando por tempos de grandes desafios e provações; enxugando as lágrimas de muitos irmãos, mas também enriquecendo-me de muitos valores que eles me comunicavam com seu exemplo de fé e perseverança nas dificuldades.
Mas, acima de tudo, anos que me permitiram descobrir ainda mais a grandeza do amor de Deus e do imenso dom da fé em Jesus Cristo, que recebi no seio da minha família e da minha comunidade paroquial de origem.