Ao usufruir das riquezas que a Quaresma oferece, o cristão é conduzido à prática dos princípios essenciais de sua fé, com o objetivo de melhorar a sua vida e o ambiente ao seu redor. Podemos dizer que simbolicamente o cristão está renascendo, como Cristo.
O que devemos fazer neste tempo de Quaresma? A Igreja propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de Cinzas, três grandes linhas de ação: a oração, a penitência e a caridade. Não somente durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve buscar o Reino de Deus: "O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo..." (Mc 1, 15). Ele se manifesta nos sinais de justiça, paz e amor em toda a humanidade. A prática do amor torna-se expressão essencial na vida da Igreja e dos cristãos, conforme nos recorda o papa Bento XVI em sua primeira encíclica, intitulada "Deus é Amor". Durante a Quaresma, a Igreja propõe o jejum como uma maneira de educar-se e perceber que, o que o ser humano mais necessita é de Deus. Numa sociedade de consumo, ante a escandalosa desigualdade social, o jejum ganha maior significado. A busca do equilíbrio é um grande desafio num mundo de desejos ilimitados. É oportuno recordar que nenhuma prática de piedade tem sua finalidade em si mesma, mas deve resultar em ações concretas para melhorar a vida a em sociedade. Nesse sentido, torna-se indispensável a participação dos cristãos na caminhada dos movimentos sociais, na política e no exercício da cidadania.
Desde 1964, a Quaresma, no Brasil, dispõe de um instrumento que ajuda a viver o Evangelho e fortalece a solidariedade entre as pessoas: a Campanha da Fraternidade. É um modo criativo de concretizar práticas de inclusão, visando a transformação das injustiças sociais. Para a Igreja missionária, a CF é uma atividade ampla de evangelização que ajuda os cristãos e as pessoas de boa vontade a realizarem, na prática, a transformação da sociedade, a partir de uma situação específica. Este ano o tema é: "Fraternidade e pessoas com deficiência" e o lema, "Levanta-te, vem para o meio!" (Mc 3, 3). Desta forma, a CF dá ao tempo quaresmal uma dimensão histórica, humana, encarnada e principalmente comprometida com as questões específicas de nosso povo, como atividade ligada à Páscoa de Jesus, que procurava incluir a todos. Participando da CF, renovamos a consciência da responsabilidade que temos diante dos desafios que nos afetam e somos ajudados a manter a fidelidade a Cristo e à sua Igreja: exigência central do Evangelho. O tempo já se completou...