Diante desse quadro, não é de se estranhar que resistências e alternativas de novos atores sociais e novas práticas surjam um pouco por toda parte do mundo. Nisso, talvez o maior exemplo hoje seja a Bolívia que elegeu em 2005, Evo Morales Ayma, o primeiro índio presidente de um país. Com 62% de população indígena, a Bolívia é um dos países da América Latina mais ricos em recursos naturais e um dos mais pobres economicamente. Conforme bem observou o sociólogo Boaventura Sousa Santos, este contraste, que caracteriza muitos outros países do Sul, bastaria para fazer um juízo sobre o “modelo de desenvolvimento” que o colonialismo e o capitalismo impuseram à grande maioria da população do mundo nos últimos cinco séculos. É importante notar que são os excluídos dos excluídos, os povos indígenas, os protagonistas de um novo processo de mudança na forma de administrar os recursos naturais. Algo interessante está acontecendo. Nas últimas décadas o imperialismo norte-americano concentrou seus interesses nas jazidas petrolíferas do Oriente Médio, voltando as costas para a América Latina. Aproveitando-se dessa oportunidade, países da região estão hoje liderando as reivindicações por um novo modelo de Estado em contraposição àquele construído pelo capitalismo.
No Brasil, a Companhia Vale do Rio Doce é a maior produtora de minério de ferro do mundo com jazidas suficientes para 400 anos. Na onda de privatizações do governo FHC, a Vale, até então estatal, com um patrimônio de 92 bilhões de reais, em 1997 foi privatizada por apenas 3,3 bilhões de reais. O valor real da Vale era mais de 10 bilhões de reais e o leilão esta sendo questionado na justiça. Esse tipo de negócio é uma forma de transferir para alguns setores decisivos da produção nacional, o patrimônio de todo o povo brasileiro.
Com o objetivo de exigir a soberania da Nação sobre o que pertence a todos, o lema do 13º Grito dos/as Excluídos/as 2007 é: “Isso não Vale! Queremos participação no destino da Nação”, juntamente com o Plebiscito Nacional sobre a Companhia Vale do Rio Doce a realizar-se durante a Semana da Pátria. “A Vale deve continuar nas mãos do capital privado”? Entre os dias 1º e 9 de setembro, a população poderá manifestar-se votando nos locais de votação que serão instalados em todo o território nacional.
Além do uso de métodos ilegais, as privatizações dos serviços públicos e o uso dos recursos naturais contribuem para a concentração de renda e poder nas mãos de grupos financeiros e acionistas estrangeiros. É surpreendente notar que não se veja uma relação entre tal política e o aumento da criminalidade, da violência; da desigualdade social, da corrupção e do racismo: novos rostos dos excluídos.
Mestre em Comunicação e diretor da revista Missões, pe. Jaime Carlos Patias, imc es co-autor do livro Comunicação e Sociedade do Espetáculo, Paulus, 2006.