Tanto a nós como a outros seminaristas costumava dizer: “cortar!”. Era sua convicção que na caminhada formativa, rumo ao sacerdócio, não se precisa muito mais do que uma simples dose de boa vontade, fidelidade e oração. Por isso, era preciso “cortar” tudo o que é supérfluo e, portanto, desnecessário à formação, para se cultivar os verdadeiros valores humanos, cristãos e sacerdotais. Quando voltámos ao seminário, no dia 02 de Fevereiro deste ano, encontrámo-lo em fraco estado de saúde, a que chegou a chamar de Calvário. Durante esse tempo do seu sofrimento humilde, aprendemos muito com o seu “silêncio formativo”, com o seu saber doar-se sem reservas nem queixumes. Suportou a dor por alguns meses e depois, como nunca mais melhorava, teve que ir ao Quénia para tratamento. Quando em Junho voltou a Moçambique, porque estava aparentemente recuperado, enchemo-nos de alegria. Retomou logo as suas actividades com a dedicação e o zelo de sempre.
No dia 06 de Agosto, dia da Transfiguração do Senhor, celebrámos com ele o seu 26º aniversário de profissão religiosa, com as irmãs de S. José de Clunny e da Consolação, nossas vizinhas. A seguir, tivemos um jantar de confraternização entre nós. Dedicamo-lhe felicitações e mais anos de entrega e serviço. Sem sabermos que estávamos a “profetizar” a sua morte, chegámos a dizer: Pe., muitos falam bem dos outros quando estes já não existem. Mas nós queremos aproveitar esta ocasião para manifestarmolhe a nossa gratidão por tudo que tem feito por nós. Mencionámos muita coisa boa que ele nos ensinava; encorajámo-lo para que continuasse a ser generoso para connosco, e pedimos que nos falasse da sua vida religiosa.
Disse logo: “26 anos de profissão religiosa, são, para mim, 26 anos de felicidade: a felicidade de servir a Deus e ao seu povo”. Depois destas palavras, resumiu todo o seu trabalho apostólico em terras de Moçambique, desde os momentos difíceis da guerra em que chegou. “São quase 20 anos gastos nesta Pátria, mas sempre vividos com muita alegria e assistência divina: sem a ajuda de Deus, não teria feito nada”, acrescentou.
No dia 07 de Agosto, rezámos as laudes e fomos com ele ao Centro de saúde da Polana Caniço, arredores da cidade de Maputo. Nos nossos planos humanos, o Pe. Joseph estava a acompanhar-nos para prestarmos alguns exames médicos porém, nos desígnios de Deus, nós é que acompanhámos a ele ao local da sua partida desta vida para a outra.
Chegados à Polana Caniço, ligou para dizer à Doutora irmã Raquel que havíamos chegado. Enquanto isso, nós fomos formar bicha para sermos atendidos. Ele começou a perder o ar e foi de imediato a uma sala para ser tratado. Ligou e chamou um de nós para ir ter com ele, o seminarista José, depois seguiu o Pe. Luís Ferraz, IMC. De um segundo ao outro respirava com muita mais dificuldade. Houve intervenção imediata de muitos médicos e outros agentes da saúde, mas em vão. Esforçou-se e disse: “Estou a morrer, estou a morrer... meu Jesus, meu Senhor!”. Mais nada se ouviu de sua boca.
Damos este testemunho para que se saiba quem foi para nós o Pe. Joseph. É difícil dizer tudo a respeito dele. Chorámos a sua partida, mas orgulhamo-nos de termos vivido com ele: aprendemos bastante dele em tão pouco tempo. Perdemos um formador, mas ganhamos um intercessor. Aliás, como disse o Conselheiro Geral da Europa e Ásia e encarregado da formação de base, Pe. Francisco Lopéz, “embora fisicamente ausente, o Pe. Joseph está mais perto de nós agora do que antes”. Sim, ele se perpetuará nas nossas memórias, porque “o justo deixará memória eterna” – Sal 112 (111), 6. Ámen!