Os clamores na Bíblia
Perante certas situações com que somos confrontados nos vem espontâneo um grito, um clamor, que pode ser de alegria ou tristeza (pedido de auxílio). A Sagrada Escritura não é indiferente a esta experiência humana. A linguagem do grito, do clamor não é uma linguagem estranha na Bíblia. Pelo contrário, uma rápida leitura nos mostra como é uma linguagem recorrente e cheia de significado. Um dos textos mais impressionantes é o do livro do Êxodo 2, 23: “Aconteceu, depois de muitos dias, que morrendo o rei do Egito, os filhos de Israel suspiraram por causa da servidão, e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus por causa de sua servidão”. A opressão a que o povo de Israel fora sujeito durante sua permanência no Egito tornara-se insuportável, não dava mais para agüentar aquela situação. Perante este drama, o povo de Israel grita e clama a Deus.
Pedidos de auxílio ao Senhor estão presentes em muitos outros textos. Salomão em sua oração reza: “Volve-te, pois, para a oração de teu servo, e para a sua súplica, ó Senhor meu Deus, para ouvires o clamor e a oração que o teu servo hoje faz diante de ti”. Salomão suplica a Deus que escute o seu clamor (1Reis 8, 28). Mas é, sobretudo, nos Salmos que esta linguagem adquire um significado todo especial. Sendo orações, algumas bem pessoais, apresentam os gritos e os clamores do povo. Como na oração da manhã do Salmo 5: “Atende à voz do meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois a ti orarei” (Sl 5, 2). São vários os Salmos que repetem este pedido para que Deus escute o clamor do povo (Sl 17, 1; 18, 6; 34, 15, entre outros).
Até agora vimos como na Sagrada Escritura encontramos a linguagem do grito/clamor presente em vários textos, vimos como este grito vem de uma experiência que não é possível suportar mais e, portanto, se pede auxílio a Deus para que venha remediar essa situação. Confrontado com os gritos do seu povo, a Bíblia nos relata que este Deus não permanece indiferente ao sofrimento humano, pelo contrário, os gritos e os clamores do povo chegam até Ele e são ouvidos. Novamente o texto do Êxodo demonstra ser precioso: “Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel é vindo a mim, e também tenho visto como os egípcios os oprimem” (Ex 3, 7-8). Estamos perante um texto impressionante. Deus escutou o grito, viu a aflição. Deus não permanece indiferente! O clamor chegou até Deus, e agora? Agora é tempo de ação, Deus envia um libertador ao seu povo para que a situação seja mudada radicalmente. Também no primeiro livro de Samuel encontramos a mesma situação. Deus escuta o clamor do seu povo oprimido: “... porque o seu clamor chegou a mim” (1Sam 9, 16).
Deus lembra do seu povo
Na Bíblia encontramos também a promessa de que Deus sempre escutará o grito do seu povo: “... não se esquece do clamor dos aflitos” (Sl 9, 12). O Salmo 145 é mais evidente: “Ele cumprirá o desejo dos que o temem; ouvirá o seu clamor, e os salvará” (Sl 145, 19). Estamos perante um Deus que verdadeiramente não permanece indiferente, mas um Deus que escuta e se coloca em movimento para que a situação possa ser mudada e assim cesse o grito do aflito. Vivemos hoje confrontados com tantos que gritam. Gritam por dignidade, direitos, trabalho, justiça e oportunidades. Perante tais gritos não podemos ficar indiferentes, o texto de Provérbios nos adverte: “O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele mesmo também clamará e não será ouvido” (Prov 21, 13). Ser missionário é escutar os gritos dos aflitos e estar ao seu lado na luta por um mundo mais justo para todos. No dia Sete de Setembro, à luz da Palavra de Deus, participemos nos destinos da nossa nação com o Grito dos Excluídos e ouvidos atentos aos clamores de milhões de brasileiros e brasileiras.
Publicado na edição Nº07 – Setembro 2007 - Revista Missões.