Se Jerusalém ficou inundada de tantos peregrinos, Belém, foi profundamente repleta e invadida por uma enorme e incontável multidão! Tão grande que não se podia contar: "Muitos como as estrelas do céu e tantos como a areia do mar"... Esta multidão esteve bem presente na celebração eucarística da Basílica da Natividade quer no dia 24 quer no dia 25.
O que os peregrinos estranhavam era a presença massiva de militares palestinianos mesmo no recinto eclesiástico. Até o telhado da grande Basílica estava "ornado" de militares... O que é que se está a passar? A resposta veio do cortejo presidencial: até o presidente veio para a santa missa.
Nos dias a seguir ao Natal tanto Belém como Nazaré e Jerusalém continuaram a ser testemunhas destes peregrinos ou turistas provenientes de todo o mundo.
Uma ofensiva inesperada dos israelitas contra os Hamas e a população de Gaza quebrou o tumulto e o movimento das cidades. Belém, Nazaré e Jerusalém foram reduzidas ao silêncio, a uma despovoação total e um deserto inimaginável.
Foi de facto no dia 27 do corrente mês, no dia de shabat, dia consagrado exclusivamente ao descanso judaico, que os militares israelitas, quebrando a ordem do Shabat, surpreenderam atacando Gaza e provocando a morte de mais de 200 pessoas e mais de 800 feridos. Ninguém imaginava que em dia de sábado fariam um tal ataque tanto mais que o Conselho de ministros se reuniria no domingo, dia 28, para decidir sobre a situação.
Ontem toda a zona árabe, incluindo a cidade de Jerusalém antiga, foi testemunha de um despovoamento total. Tudo fechado, excepto algumas farmácias e supermercados que continuavam abertos. Era a reacção dos palestinianos residentes em Jerusalém contra o ataque dos israelitas e a morte de tantos seres humanos. E os militares israelitas, para evitar uma pior situação em Jerusalém, vigiam a cidade. Na cidade só se vêem militares bem armados e alguns israelitas também armados em posição de defesa. Quase nenhum turista ou peregrino na cidade.
Esta manhã, pelas 08h30, o ambiente era quase idêntico. Pelas 11h00 foram aparecendo timidamente uns e outros... algumas lojas semi-abertas.
A Universidade Hebraica foi toda ela circundada de militares e de alguns estudantes armados. Se em dias normais já existe um apertado controle na entrada da Universidade hoje a coisa é bem pior: quase uma hora para conseguir entrar na universidade. E que controle! Até os telefones celulares.
Se de um lado existe uma presença massiva de estudantes israelitas e estrangeiros que afluem à Universidade, do outro lado constata-se hoje uma ausência notória dos estudantes universitários palestinianos na Universidade Hebraica. A que se deve? A resposta é clara: uma reacção contra o sangue derramado dos inocentes.
Se os peregrinos não aparecem nas ruas das cidades para uma auto-defesa e por medida de prudência, os palestinianos fazem-no como protesto e contestação pelo sangue derramado dos irmãos inocentes.
Foi assim que, em poucos dias, Jerusalém testemunhou uma massiva presença de peregrinos e hoje se sente abandonada, despovoada e deserta. Mas ninguém esquecerá Jerusalém.
Pois, mesmo se não pululam as pessoas nas suas ruas e artérias, diremos como o Salmista:"Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, que a minha mão direita perca a sua destreza". E ademais diremos, não somente por Jerusalém, mas por todo o médio oriente: "Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam. Haja paz dentro de teus muros e prosperidade dentro dos teus palácios. Por causa dos meus irmãos e amigos, direi: a Paz esteja em ti. Por causa da casa do SENHOR nosso Deus, buscarei o teu bem” Sl 122, 7-9.