Ele deu-lhes o mesmo fim especifico expresso no lema, ‘anunciarão a minha gloria aos povos’ (Is. 66,19) Este é um lema a mais para refletir quando celebramos esta grande festa de Consolata. Várias questões perturbam-nos enquanto o lemos – porque Allamano escolheu esta frase de Isaias como o nosso lema? Por que não foi de outro livro de Isaias? O que significa esta frase no seu sentido original? Qual é a aplicação dela no dia de hoje?
A tradução bíblica (versão - A Nova Bíblia de Jerusalém) da frase que as constituições usam diz o seguinte: “Porei um sinal no meio deles e enviarei sobreviventes dentre eles às nações: e Tarsis, A Fut, A Lud, A Mosoc, A Tubal e a Java, às ilhas distantes que nunca ouviram falar a meu respeito, nem viram a minha gloria entre as nações. Estes proclamarão a minha glória entre as nações,...” (Isaias 66,19.)
Como explicar este pronunciamento encontrado em Isaias? Primeiramente, é ver o seu contexto em que se encontra esta frase. O que significa o sinal? As nações? Ver a gloria? Anunciar a gloria? Enviar? etc.
A nossa primeira pressuposta é que muitos exegetas concordam que os vv. 18-24 provavelmente foram acrescentados como conclusão dos caps. 46-66, ou até mesmo do livro inteiro. Todo o trecho devia ser em verso e possivelmente foi desfigurado pela inserção da lista de nações do v. 19 e dos meios de transporte do v. 20. Todas as nações serão convertidas e reconduzirão os dispersos de Israel a Jerusalém em oferenda a Deus? Mas é Israel que recebe as promessas eternas – e ai, como que é? Em nenhum outro passo do AT o universalismo e o particularismo se encontram tão justapostos. E os sobreviventes das nações, (cf. 45,20-25) são os convertidos? São ‘missionários’? E as noções enumeradas? Esta lista é adição que toma seus elementos de Ez. 27,10-13? As identificações prováveis são: Tarsis – Espanha; Fut – líbia; Lud – Lidia; Mosoc – frigia; Tubal – Cilicia?
O gesto de Javé de colocar um sinal entre elas é muito importante, embora não se diz que consiste este sinal, mas num contexto textual mais global é o equivalente do estandarte, da mão e da bandeira que segundo 11, 10-12, Javé levantava sucessivamente para convocar a diáspora. Mão e bandeira eram levantadas também com o mesmo objetivo, em 49,22. A finalidade deste sinal é, de fato, explicitada de imediato em 66,19a ‘e enviarei (a chamar) dentre elas ‘escapados-às- nações’ que, com toda evidencia, são israelitas e judeus. Por tanto, no uso estrito da palavra missionária, não há nenhuma, perspectiva missionária neste oráculo, como em nenhum outro do livro de Isaias.
O livro de Isaias é formado por um conjunto de 66 capítulos. Ai encontramos três livros de épocas diferentes, mas todos te em comum as situações de opressão e consolação. O 1º Isaias (1-39): esta profecia é do século VIII a.C. O grupo enfrenta conflitos com a monarquia e o império assírio. O 2º Isaias (40-55): no contexto do exílio, por volta de 540 a.C. O povo vive sob a tirania do império babilônico. E o 3º Isaias (56-66): surge em Judá, entre os anos 540 e 450 a.C. No processo de reconstrução de Jerusalém, o grupo profético denuncia a corrupção e a exploração das elites judaicas e do império persa.
O segundo Isaias reaviva a fé e a esperança do povo do voltar para Jerusalém: “saiam da babilônia, fujam dos caldeus. Anunciem isso com gritos de alegria, espalhem a noticia até os confins da terra. Digam assim: Javé redimiu seu servo Jacó.” (Is. 48,20). O ano 538 a.C, marca o fim do exílio da babilônia. O decreto de Ciro, imperador da pérsia, possibilita o regresso dos povos dominados. O livro do 2º Isaías. Termina com a descrição de como será a volta para Jerusalém e a garantia da presença de Javé nesta caminhada. (55,12-13). As pessoas exiladas voltam com o sonho de construir uma nova Jerusalém. Querem refazer a aliança com Javé e construir uma sociedade justa e fraterna, com água, bebida e comida para todas e todos. (54-55).
Mas os anos passam e nada de acontecer a salvação e a libertação prometidas por javé. A elite judaica se alia aos persas na opressão e exploração do povo. O templo e a lei se tornam instrumentos eficazes na coleta dos tributos e impostos. A maioria da população especialmente a camponesa experimenta fome, miséria, desemprego, expropriação, falta de moradia, morte prematura e escravidão. Muitas pessoas caem na descrença, algumas abandonam a fidelidade a Javé e buscam outras divindades (57,3). Quando tudo parece perdido, ressurge uma luz. Um grupo, provavelmente formado por levitas e pessoas pobres, começa a reconstruir o sonho: “observem o direito e pratiquem a justiça, por que a minha salvação está para chegar e a minha justiça vai se manifestar”. (56,1).
A busca de realizar o direito e a justiça é a temática que é abordada por 3º Isaias.
Os levitas são pessoas fieis à palavra de Deus e ao compromisso com as pessoas destituídas de dignidade. O capitulo 66, que nos concerne por excelência, começa com a direção do olhar de javé: “eu olho para o aflito e o de espírito abatido, e também para aquele que estremece diante das minhas palavras”. E ainda: “ouçam a palavra de Javé, vocês que veneram a palavra dele”. (Is. 66,2b.5)
A final, para quem é a mensagem de salvação? Para os outros povos? Para os ‘escapados-às-nações’ (v.19a), que são israelitas/ judeus? As nações, tantas vezes mencionadas, não intervêm como tais, mas sempre em relação com a presença de israelitas no meio deles. No v. 18, ‘as nações e línguas’ parece uma designação dos outros povos, os não israelitas / judeus. E é verdade que virão e verão minha gloria. (v. 18b). Ver / conhecer a gloria de Javé é uma expressão freqüente nos relatos ou oráculos de salvação para Israel no contexto de sua dominação por poderes estrangeiros. O próprio Javé o diz acerca dos egípcios no magno acontecimento da libertação. (Ex. 7,5; 14,4-18).
O v. 19a, ‘e enviarei” – o verbo enviar , shalah, em sua forma intensiva nem sempre significa ‘enviar’, mas também ‘enviar para chamar’. A idéia é de vida e não de ida. Ou melhor, o mensageiro ‘vai’ a alguém para ‘fazê-lo vir’. O texto não fala de enviar estes ‘escapados’ para irem agora às nações , mas o que Javé faz vir (a Jerusalém). São “escapados-às-nações”, expressão que se refere ao passado e não ao presente ou futuro: Equivale a dizer: ‘os que haviam escapado (em outro tempo) às nações. Essa convocação de Isaias do povo da diáspora é um tema que costuma ser entendido ‘missionariamente’ mas que é justamente referente ao resgate de Israel dentre as nações como aparece em (Is. 2, 2-4;11,10-16;25,6-10a etc.).
Agora, em v. 19, depois da primeira parte, segue um longo parêntese, em que se mencionam algumas dessas nações onde os ‘escapados’ se haviam refugiado em seu momento. O importante é destacar a pluridade e a grande distancia, para assim mostrar a capacidade de Javé de reunir.
O inciso ‘... que não ouviram noticias de mim nem viram minha gloria’ é uma frase relativo que concorda com o sujeito imediato – as ilhas longínquas e os povos citados – e não com ‘escapados’, substantivo que fica muito distante. Esta descrição das outras nações expressa, por sua própria ‘memória histórica’, baseada em sua experiência salfívica de javé. Este parêntese explica retrospectivamente o v. 18a: as nações e línguas, no futuro, ‘virão e verão minha gloria /energia’. Como isto acontecerá?
Consolata como Modelo.
Era o dia 20 de junho de 1104, quando, Jean Ravais, um cego da cidade de Briançon, na franca, chegou a Turim, sendo tido, um sonho no qual nossa senhora prometia devolver-lhe a visão se ele fosse para Turim retirar o quadro das ruínas. Para fazer esta memória, as irmãs da Consolata fizeram uma encenação desta grande experiência que marcou o inicio da nossa celebração da festa da nossa padroeira. Era no dia 20 de junho de 2009, 905 anos depois da experiência de Jean Ravais, que reunimos como IMC, MC, LMC, amigos e benfeitores para celebrar esta nossa festa. Os missionários tinham como motivo a intenção de inter-culturaridade; as irmãs, a intenção de centenário; os leigos a intenção de nova e florescente caminhada; e os demais, a intenção de graça de fazer parte desta família querida.
O presidente da celebração era Pe. Lírio Geraldi, superior regional do Brasil. Na sua reflexão, Pe. Lírio disse que a nossa alegria é ter Maria para nós como modelo de consagração a Deus que leva a liberdade de pessoa ao encontro com a gratuidade de dom de Deus; de escuta que envolve um processo de ver, julgar e agir – ação missionária; e de oração que chama a comunicar com Deus, reconhecendo a nossa humildade e a força do Espírito Santo. Pe. Lírio exortou a cada um de nós para que possa dar testemunho da presença de Maria em nossa vida.
Ainda Não!
Ainda não morreu a esperança;
Não, deixou de correr o sangue;
De Insistir no tempo novo;
Que surge a cada manhã.
Ainda não despertou a aurora;
Mas vemos os raios do amanhecer;
Crianças que correm;
E de ciranda em ciranda, anunciam e alimentam o por vir.
Ainda não calou a profecia; a ousadia, a teimosia;
Cansados estão, aqueles que de medo não lutam,
Porque o sonho não mais pulsa na consciência e no coração;
Ressurge o fulgor, a história nova,
Escrita instantemente e infinda,
Que pulsa borbulhante, enquanto for esperança, sonho e poesia,
Dos ainda não deixaram de lutar.
Ainda não, ainda não, ainda não.