Libertar o Índio pelo Índio

Pubblicato in I missionari dicono

Toda luta do ser humano em busca da vivência dos direitos à vida tem como finalidade a promoção da vida humana. Uma vida que deve ser respeitada e vivida com dignidade.  A evangelização busca também este aspeto da promoção da vida do ser humano. A educação seja ela recebida em cada, na família, nas escolas, nas instituições deve ser uma base forte para a elevação da vida em busca de uma interdependência. Porque ninguém nasce e vive sozinho. O que é preciso evitar é viver dependendo sempre dos outros, trabalhando sempre para os outros sem ter a esperança de uma vida tranquila e melhor. Este aspecto da vida se encontra em cada cultura do mundo.

Libertar o índio pelo índio é uma tentativa de encontrar caminhos que podem ajudar a entender a vida e a situação dos índios na busca de uma vida digna e valorizada por todos. Esta inspiração vem do desejo do Fundador dos missionários da Consolata, o Pai José Allamano que sempre falava da evangelização e da promoção da vida humana.

Para entender os caminhos que podem ajudar o índio a libertar o índio, a história do povo de Israel na escravidão e depois da escravidão será o primeiro dos elementos que servirá de pistas. Depois o segundo momento será consagrado à atuação dos índios e os meios que poderão ajudar na busca de uma vida digna e valorizada.

Moisés o israelita liberta os israelitas

Por mais de 400 anos, o povo de Israel ficou na escravidão no Egito. Foi tempo de muito sofrimento, muita humilhação, falta de vida digna. O trabalho era forçado e quase não tinha tempo para descansar, ficar com a família, celebrar tranquilamente o culto a Javé. Mesmo estando nesta situação, o povo não deixou de viver e valorizar a cultura dos seus antepassados. Este povo buscou se organizar mesmo no tempo de sofrimento. No mesmo tempo, nenhuma voz podia ser ouvida para reclamar a liberdade dos israelitas diante de Faraó.

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Diante desta situação, o povo não se cansou de clamar a Javé para que o socorresse. Deus escutou o clamor do povo de Israel e enviou Moisés para libertá-lo do poder de Faraó. Sendo um israelita, Moisés conhecia melhor a cultura egípcia porque cresceu no palácio do Faraó. Mesmo sendo membro do palácio, ele não se conformava ver sempre os irmãos israelitas viverem no sofrimento, sendo maltratados pelos egípcios. Até que um dia decidiu ajudar os seus irmãos israelitas e acabou matando o soldado do império. Este fato levou Moisés a fugir longe do Egito. O clamor do povo fez com que Javé escolhesse o mesmo Moisés para liderar a libertação do povo de Israel. Uma pessoa que tinha seus limites; que gaguejava; e que tinha medo de ser morto. Mas, Javé lhe confiou a missão para tirar o povo da escravidão que durou por muitos anos.

Vale ressaltar que Moisés foi um israelita que recebeu a educação egípcia da corte imperial. Ele conhecia bem a cultura do Egito e também conhecia a cultura do povo de Israel. Este fato o ajudou a lutar pela libertação do povo tendo Javé como guia. O livro do Êxodo relata melhor como foram as diferentes lutas de Moisés contra Faraó. E não foi fácil para que Faraó liberasse o povo. As pragas serviram de sinais para que o Egito deixasse os israelitas voltarem para a terra dos seus antepassados. Faraó decidiu deixar o povo ir embora, não por ser convencido mas por medo. Mas, mesmo assim, o seguiu esquecendo-se de que Javé sempre estava com este povo.

Após a falha de Faraó de não conseguir fazer os israelitas voltar para o Egito, Moisés continuou liderando no meio do povo a fim de leva-lo até a terra prometida por Deus.  O fato de sair do Egito não significou para o povo que a luta acabou. Porque no meio do caminho houve tantas outras lutas contra outros povos que encontravam no caminho. Para poder vencer estas lutas, o povo de Israel precisou se organizar sempre mantendo a cultura e a memória dos seus antepassados. Com a liderança de Moisés, Javé demonstrou ao povo de que, quando se inicia o processo de libertação, não se pode voltar a olhar para atrás. Mesmo ficando com saudades do que tinha como alimento no Egito, o relato ensina que é melhor passar fome para manter a dignidade da vida. Não pode alguém viver como escravo para sempre.

Os livros de Levíticos, Números, Deuteronômio ensinam como foi a organização do povo de Israel durante a caminhada até a terra prometida. Esta organização foi a base principal para unir o povo e lutar junto para conquistar a terra. Esta organização não só foi religiosa, mas também social, política, moral, educacional. Os israelitas mostraram a capacidade de lutar pela vida digna buscando sempre viver unidos mesmo que esta unidade corria o risco de se romper por causa do egoísmo de alguns membros. Em cada luta, encontra-se este clima de tensão que não favorece uma luta eficaz. Os relatos da Bíblia ensinam que um israelita, com a ajuda de Javé, salvou a muitos outros israelitas. Este povo, mesmo conquistando a terra, não baixou a cabeça. Continuou fortalecendo a vivência dos valores e da cultura dos antepassados buscando se organizar melhor porque sempre havia risco de ficar escravo de um império mais forte da época. Esta experiência do povo de Israel pode servir de exemplo para muitos povos que buscam uma libertação efetiva e uma valorização da vida do ser humano. Foi nesta linha de libertação que José Allamano enviou os missionários no mundo para evangelizar e lutar pela promoção da vida do ser humano. E no momento em que o povo se sente capacitado para caminhar sozinho, os missionários da Consolata procuram outro lugar de missão.  Na América, ainda existem vários povos que clamam pela libertação. Hoje os índios, os quilombolas, os ribeirinhos, os afrodescendentes clamam por uma vida digna. A partir da história do povo de Israel, se pode acreditar que os nativos têm a capacidade de se ajudarem para buscar uma libertação efetiva.

Libertar o índio pelo índio

A história do povo de Israel no exílio e depois do exílio relata o caminho de uma parte do povo que fez uma experiência bem diferente à da outra parte do povo que não foi para o exílio. Isso também leva a entender que este segundo ponto do artigo parte da experiência de uma parte dos índios que se encontram no Brasil. Esta experiência pode refletir umas realidades dos índios em geral.

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A história na América ensina que por muitos anos os índios sofreram violência das mãos dos colonizadores e continuam até hoje passando nesta situação de sofrimento. Estando na própria terra, os índios viveram como escravos; muitos perderam a vida por ter lutado contra os sistemas que destruíram as diversas culturas dos antepassados. Pode-se dizer que a escravidão se instalou nas terras indígenas. As práticas culturais eram proibidas. Os povos deveriam seguir e viver a cultura do colonizador. Supostamente Brasil ganhou a sua independência, mas os índios seguiram o jugo de escravidão, tendo poucos direitos na sua própria terra: os fazendeiros, os garimpeiros, o mesmo governo, os escravizaram.

Diante desta situação desastrosa, os índios clamavam pela libertação assim como clamava o povo de Israel no Egito. Este clamor levou um grupo de liderança- por exemplo na Terra indígena Raposa Serra do Sol- a tomar consciência da situação e buscar o caminho para sair da escravidão. Assim nesta terra, iniciou-se a luta para tirar os fazendeiros que oprimiam as comunidades. Muitas lideranças perderam a vida por causa do bem comum dos índios. Este exemplo da terra Raposa Serra do Sol pode ser uma referência para tantas outras terras. A partir das lutas e a tomada de consciência, esta terra chegou a ser demarcada e depois homologada em 2005. Para chegar a este objetivo, os índios precisaram se organizar para lutarem juntos tendo ajuda de missionários ao lado deles. As lideranças mostraram que, a partir da organização e união, realizaram muitas lutas e conquistas para o bem de todos os povos. A luta tirou os fazendeiros e garimpeiros na época. Mas isso não significou que a luta acabou e que  tudo tinha voltado a ser vivido na santa paz. E os próprios índios líderes orientavam o povo como fazia Moisés.

Assim como o povo de Israel, saindo do Egito, enfrentava outras dificuldades no caminho mesmo chegando à terra prometida, os índios em geral enfrentam ainda hoje vários problemas seja político-religioso, seja cultural e social. A cada dia o povo vem lutando para não baixar a cabeça e ceder aos que querem dominar. Várias organizações foram formadas no estado de Roraima (CIR, OPIRR, OMIR, SODIURR, HUTUKARA, COAB, etc) para lutar pelos direitos dos índios, pela dignidade da pessoa do indígena, pela educação. Em outros estados do Brasil onde se encontram os índios, as lideranças guerreiros que cuidam das florestas estão sendo assassinados por não permitirem a destruição da natureza e da Mãe-Terra. Fora das organizações próprias índias, existem várias outras organizações que também apoiam os índios.

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Diante de tanta maldade que acontece ainda hoje no meio dos índios, será que as organizações índias e não índias estão ajudando os índios a serem protagonistas da sua total libertação?  Será que o fato de sempre elaborar projetos ajuda os índios a libertar outros índios? Será que o espírito de união que existia entre as lideranças que iniciaram a luta continua até hoje no meio dos índios? Será que a estrutura educacional ajuda os povos a valorizarem a sua cultura? Estas perguntas são importantes para poder entender a frase: “libertar o índio pelo índio.”

As diferentes organizações dos índios que se encontram no Estado de Roraima são compostas de índios que buscam trabalhar juntos para o bem dos índios. A maior assembleia dos povos indígenas no Brasil acontece neste Estado. Tudo se organiza a partir da coordenação composta de índios. Um exemplo de índios que lutam pelos seus direitos e que fazem ouvir as suas reclamações nas diferentes instâncias do país e do mundo.

Para que estas organizações tenham mais força, é preciso criar organizações de base a partir das comunidades. As comunidades são a força das grandes organizações no nível do Estado, do país e do mundo exterior. Se as comunidades se organizarem melhor, cada índio poderá ter a coragem e a consciência de buscar uma vida digna que respeita a cultura e os parentes favorecendo uma harmonia e paz.  A base deve sempre ser a educação. Esta educação começa em casa e se estende nas escolas e instituições. Não se pode ser membro das organizações se não tiver um nível de educação boa.

A cada ano, há exigência de melhorar a educação escolar e universitária. É a luta de cada ano. As organizações não-índias se destacam na luta pelos direitos dos índios e elaboram mais projetos para ajudar. Mas, com tantos projetos, a situação continua a mesma. Os recursos são arrecadados, mas a evolução continua tão lenta. Se estas organizações investirem mais na educação, lutando pela melhoria da educação, o caminho poderá ficar aberto para uma libertação completa. Não se pode melhorar a educação dos índios se os membros da secretária da educação são na maioria não-índios; não se pode falar da melhoria da saúde, se o secretário da Sesai continua sendo não-índio. Não se pode falar dos índios nas instâncias políticas se não tiver índios eleitos para defender os povos. Não se pode falar da proteção e promoção dos direitos dos índios se a FUNAI continua estando na mão dos não-índios. Não se pode melhorar os projetos, como projeto gado, ou melhorar a produção da terra se os índios não têm seus próprios agrónomos e engenheiros. Não se pode construir uma Igreja autenticamente índia se não surgem ministros índios. Tudo isso tem como base a educação.

Se o povo de Israel conseguiu lutar e conquistar a terra foi porque não se esqueceu da organização interna e da educação. O índio vivendo na comunidade vai libertar outro índio no momento em que será o protagonista de tudo para o bem de todos.

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As perguntas feitas em cima devem interpelar a todas as organizações políticas, religiosas e sociais para avaliar o trabalho junto com os índios. Se os missionários das diferentes confissões se retirarem das terras indígenas, será que faria uma grande diferença? Será que deixariam os povos maduros para seguir o caminho sem depender das organizações? Os projetos que se realizam aproveitam em totalidade ao índio?  Os índios precisam manter os seus costumes culturais e também conhecer em profundidade a cultura de todos aqueles que os oprimam. Para salvar a Amazônia, que os recursos que vêm do exterior possam chegar até na base para ajudar os guerreiros a cuidar da Mãe-Terra.

Portanto, assim como Moisés ajudou a libertar Israel da escravidão do Egito, assim também os índios devem ser peças chaves para uma libertação total de todos os índios. Os apoios e projetos devem fortalecer as organizações dos índios a fim de que eles sejam protagonistas de tudo e que não vivam sempre na dependência, mas sim no ambiente interdependente.

Ultima modifica il Domenica, 16 Agosto 2020 22:25

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