Os venezuelanos seguem abandonando o país em busca de sobrevivência. Milhares cruzam a fronteira no norte do Brasil e chegam nas cidades de Pacaraima e Boa Vista em Roraima onde, apesar dos esforços as condições de acolhida são extremamente precárias. A falta de infraestrutura para abrigar a demanda de refúgio cria tensões e preocupações.
Entre os imigrantes estão os indígenas Warao e E’ñepá. Em Pacaraima e Boa Vista foram organizados dois abrigos especialmente para acolhê-los, mas não há lugar para todos. Graças ao apoio da Equipe Missionária Itinerante do Instituto Missões Consolata e de outros organismos da Igreja em Boa Vista, no início do mês de março surgiu um novo espaço. Ka’Ubanoko, que na língua warao significa “nosso dormitório”, é o nome dado ao local, uma propriedade do Estado de Roraima, situado no bairro Jóquei Clube. Trata-se de um Parque Esportivo cuja construção não foi concluída e estava abandonada.
Muitas famílias que há meses viviam na rua, embaixo de cajueiros em terrenos baldios, expostos a todo tipo de sofrimento, como a fome e a insegurança, foram acolhidas no Ka’Ubanoko.
Atualmente são cerca de 160 famílias, aproximadamente 350 pessoas, a maioria indígena Warao, mas tem também indígenas E’ñepá e venezuelanos não-indígenas. Ao contrário dos abrigos administrados pela Fraternidade e o Exército brasileiro, no Ka’Ubanoko os moradores gozam de maior autonomia. Consequentemente, o número cresce com maior rapidez. Os principais desafios enfrentados são a fome, insegurança, aprendizado da língua, desemprego, falta de estrutura para higiene, saúde e educação. As crianças, em grande número são as que mais sofrem.
A atuação da Equipe Missionária Itinerante está inserida na grande Operação Acolhida e dá continuidade às ações concretas de administrar alguns alugueis para famílias, facilitar a obtenção de documentos (CPF, carteira de trabalho, etc.), apoio com alimentação e passagens para chegar em abrigos fora de Boa Vista. O trabalho é feito em estreita colaboração os diversos organismos envolvidos na acolhida aos imigrantes como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Exército brasileiro, Serviço Jesuíta Migrantes e Refugiados (SJMR), Caritas Diocese de Roraima, Serviço Pastoral Migrantes (SPM), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Fé e Alegria dos Jesuítas, Irmãs Scalabrinianas, Irmãs Filhas da Caridade, as Missionárias da Consolata, entre outras.
Assim que abriu o Ka’Ubanoko, a primeira preocupação foi a de organizar a convivência entre as famílias e melhorar as infraestruturas de acolhida (limpeza, banheiros, água, etc). Na sequência, foram implementadas novas iniciativas conforme as necessidades: aulas de português, atividades esportivas e recreativas, higiene pessoal para crianças e adolescentes, animação e celebrações eucarísticas. Apesar do sofrimento é bonito ver a alegria desse povo migrante que aos poucos recupera a sua dignidade em busca de novas oportunidades.
* John Omondi Omungi, Equipe Missionária Itinerante em Boa Vista (RR).