O primeiro grupo de missionários da Consolata iniciou a sua missão em Angola em 2014, com a fundação da Missão da Missão de Santo Agostinho de Kapalanga, próximo de Luanda. Nos finais de 2016 fundaram a segunda missão, em Funda, na diocese de Caxito. Este ano, irão fundar uma terceira missão, no Moxico, na Diocese de Luena, mais concretamente em Luacano, na região mais a leste de Angola.
O Superior Regional de Moçambique-Angola visitou no mês de Dezembro os Missionários da Consolata que trabalham neste país. Pode admirar o imenso trabalho realizado por eles em Kapalanga e em Funda e preparar o caminho para a fundação de uma nova missão em Luacano. Eis o relato da sua visita.
13-17 de Dezembro: Kapalanga-Luanda
Parto para Angola. São 4 horas de voo directo entre Maputo e Luanda na Companhia Aérea de Angola (TAAG). Cheguei a Luanda às 21.00. Estão à minha espera os Padres Freddy Gomez e Marcos Sembeye. Pouco depois chegamos à residência dos Padres da Consolata no Bairro de Kapalanga, na periferia de Maputo.
No dia seguinte, desloco-me a Luanda com o Padre Dany Romero para um encontro marcado com o arcebispo de Luanda, Dom Filomeno do Nascimento Vieira Dias. O objectivo da visita era encontrar este antigo colega de estudos em Roma, não nos víamos há mais de 20 anos, e ao mesmo tempo falar-lhe da presença dos Missionários da Consolata em Angola e pedir alguns conselhos.
No dia seguinte, inicia a Novena de preparação ao Natal nas comunidades da Paróquia de Kapalanga. Ajudo nas celebrações. Muita participação de fiéis. Desde a última visita em finais de 2015 vejo algumas novidades: a construção de varanda lateral na igreja para acolher mais pessoas e protege-las do sol, colocação de azulejo em todo o chão da igreja.
18-22 Dezembro: Visita ao Moxico-Luena e a Luacano
Pontualmente, às 5.00 da manhã o avião da TAAG parte para Luena, a 1350 km a leste de Luanda. Vou com o Padre Fredy Goméz. À diferença de Luanda, o clima de Luena é mais fresco e as chuvas tem caído com intensidade. Dom Jesus Tirso Blanco (Dom Tirso), Bispo de Luena, acolheu-nos no Paço episcopal com muita amabilidade e simpatia. Agradeceu a disponibilidade dos Missionários da Consolata para trabalharem na sua diocese. Falou-nos das principais dificuldades e preocupações para o futuro próximo. Ficou-me a imagem dum homem extremamente zeloso e dinâmico, sempre à procura de novos caminhos e de novas soluções para superar as dificuldades com que se vai deparando no exercício do seu ministério. Um verdadeiro pastor!
A passagem pelo Luena foi muito rápida, estivemos lá um dia inteiro, que foi quase todo passado em visitas às paróquias da cidade e dos arredores, incluído a Missão de Moxico Velho, a mais antiga da diocese, fundada 1933.
Às 9.00, do dia seguinte, pontualmente, partimos de comboio com Dom Tirso de Luena para Luacano. São 230 quilómetros na histórica Linha Férrea de Benguela. O caminho de ferro de Benguela, iniciado em 1899 e concluído em 1929, tem uma extensão de 1344 km e dá acesso à parte mais interior de Angola. Liga o litoral, o Porto de Lobito, e chega a Luau, na fronteira com o Congo. Atravessando a fronteira, encontra-se ligado aos sistemas ferroviários da República Democrática do Congo e da Zâmbia. Com a guerra civil a linha férrea foi destruída e o comboio deixou de circular. Em 2009, foi concluída a remoção de engenhos explosivos nesta linha (minas) e deu-se início à sua completa reabilitação, trabalho que terminou apenas em 2015.
Assim, a ligação entre Luena e o Município de Luacano está facilitada. São 4 horas de viagem. Atravessamos grandes planícies de floresta e sobretudo, junto ao Parque Nacional da Cameia, imensos pântanos cheios de água cobertas por capim alto e pequenos arbustos. Nesta época das chuvas formam-se grandes lagoas onde abunda muito peixe. Pontualmente, às 13.00 chegámos à vila de Luacano. Fomos recebidos pelos responsáveis da comunidade cristã local que nos acompanham à futura residência dos Padres.
Chove intensamente. No dia seguinte, 20 de Dezembro, celebramos a Missa na capela de Luacano. Depois da Missa reunimo-nos com a comunidade cristã para um momento de partilha e conhecimento mútuo. Apresento os Missionários da Consolata – seu carisma, missão, presença em África e em Angola – e os responsáveis das comunidade (catequistas) e das comissões apresentam a realidade da comunidade. Pastoralmente a comunidade atravessa neste momento grandes dificuldades. Ao abandono pastoral devido à ausência de visitas por parte dos missionários desde 1968 – devido à guerra colonial e civil, que terminou apenas em 2002 e que foi muito intensa nesta região,. O acompanhamento pastoral por parte da diocese tem sido mínimo, por falta de missionários, limitando-se a uma visita anual do bispo da diocese que nestes anos tem visitado as comunidade do Município de Luacano e celebrado alguns sacramentos a candidatos ao baptismo e casamento preparados pelos catequistas.
Visito os bairros situados ao redor de Luacano. Constato que existe bastante população e muitas igrejas e seitas de tipo pentecostal. A pobreza e um certo desleixo salta aos olhos. Tudo é muito precário. As casas são, em geral de adobe (blocos de barro), pequenas, cobertas em geral com chapas de zinco, chão batido, sem água e energia elétrica. Na vila de Luacano já há casas melhores, algumas do tempo colonial, poucas pois quase tudo foi destruído com a guerra, e algumas infra-estruturas foram construídas pelo Governo recentemente: escolas (pré-primária, primária, secundária e profissional), posto de saúde e maternidade, casas para os funcionários, etc..
No dia 21 de Dezembro, voltamos a Luena. No dia seguinte, aproveito para visitar a cidade de Luena, ex-vila Luso, fundada em Março de 1895, através da Portaria de 25 de Fevereiro de 1922 foi criada sede da Província do Moxico. Com a independência, alcançada a 11 Novembro 1975, passou a chamar-se de Luena, nome de um rio que banha o extremo sul da cidade. Actualmente a cidade é habitada por mais de 300 mil habitantes. Luena está a 1.350 metros acima do nível do mar, possuindo um clima tropical modificado pela altitude com uma pluviometria média anual a volta de 1.200 mm e temperatura média de 21ºC.
Foi em Luena que ocorreram algumas das hostilidades que despoletaram a Guerra Civil Angolana, e foi perto de Luena, no Lucusse, que foi morto Jonas Savimbi, líder da UNITA, o que pôs fim àquele conflito, em 2002. É conhecida por cidade da paz, por ostentar o Monumento a Paz, que simboliza o fim do conflito armado que o país viveu.
23-31 de Dezembro: Visita a Funda-Caxito
No dia 23 de Dezembro regressamos a Luanda. À nossa espera estão os Padres Sylvester, Luiz António e Heradius, missionários da Consolata que trabalham na Paróquia de Nossa Senhora da Consolata: Inicio a visita aos missionários e paróquia de Funda.
A nova Paróquia de Funda faz parte da Diocese de Caxito no noroeste de Angola. Caxito é a capital da província do Bengo e sede episcopal, Funda, em outros tempos, era considerada o celeiro de Luanda, e a maior parte dos seus habitantes dedicava-se à agricultura. Hoje, devido à chegada maciça de pessoas que deixam o centro de Luanda e se transferem para esta zona, a região de Funda está a transformar-se numa periferia urbana. Por isso, a população é constituída por um mosaico de diferentes etnias sempre em crescimento, sem identidade cultural própria, carecidos de pontos de referência nas instituições públicas. O contínuo aumento da população torna difícil estimar o número exacto dos habitantes.
No mês de Dezembro de 2016 os Missionários da Consolata assumiram a responsabilidade pastoral da região de Funda com a tarefa de criar uma nova paróquia.
A comuna da Funda, tem 23 bairros e é muito populosa, com estimativa populacional de 65.595 habitantes. Os católicos são cerca de 18.000.
No dia Domingo 24 de Dezembro, vigília de Natal, a Paróquia de Funda recebeu a visita do bispo de Caxito, Dom António Jaca. Os fiéis das 20 comunidades que constituem a paróquia convergem para a sede da nova paróquia situada no bairro de Mulondo. Em poucos meses, neste lugar – um terreno de 15.000 m2 - onde no início do ano não havia nada, os missionários da Consolata com a colaboração das comunidades já edificaram as estruturas básicas para o funcionamento da Paróquia: um salão com 35 m x 15 m com sacristia e casas de banho, para as celebrações litúrgicas, uma cisterna para a água, um muro de vedação com 500 metros de diâmetro, um altar coberto para as celebrações externas e plantaram muitas árvores. Muito trabalho realizado em pouco tempo. Não só de obras materiais é feito o quotidiano dos nossos missionários, mas também de muita e qualificada acção pastoral: visita às comunidades cristãs, formação dos catequistas e dos diferentes ministérios, acompanhamentos dos grupos e movimentos laicais. Foram centenas os paroquianos que participaram na Missa celebrada ao aberto pois o salão-igreja era pequeno para conter tamanha assembleia. Na homília, o bispo recordou e agradeceu o muito feito pelos missionários em tão pouco tempo. A assembleia manifestou o seu contentamento pela presença dos Missionários da Consolata e pelo trabalho que com eles estão realizando. Neste momento estão mobilizando-se para iniciar os trabalhos de construção da residência paroquial.
À noite presidi a Missa do Galo na sede paroquial. O salão-igreja estava cheio de fiéis que participaram activamente na celebração do nascimento de Jesus. Depois da Missa, o ar livre os jovens representaram o teatro do nascimento de Jesus.
Celebro a Missa de Natal na comunidade de Cristo Rei no Bairro de Muculo, a cerca de 14 km da sede paroquial. Os outros padres celebram na sede paroquial e em outras duas comunidades cristãs.
A Paróquia de Nossa Senhora da Consolata de Funda é constituída por 20 comunidades cristãs, organizadas em 4 zonas pastorais. O território da paróquia é de cerca de 132 km 2, situado entre as margens do rio Bengo e uma elevação que de Kifangondo vai até ao lago Cabiri. A Paróquia tem cerca de 20 km de cumprimentos e 7 km de largura.
Encontro-me no último dia com os missionários das duas comunidades IMC de Angola em Funda. È um acontecimento importante pois é a primeira visita do superior da Região de Moçambique com os missionários da Consolata de Angola.
O tema principal do nosso encontro foi a reflexão sobre a proposta um Projecto Missionário IMC em Angola o qual dê as linhas gerais do nosso estilo de presença e acção para o futuro e que contemple todas as áreas do nosso agir e ser missionário: vida comunitária, acção pastoral, Animação Missionária e Vocacional, Formação de base e permanente.
Apresentei o relatório da minha visita à Diocese de Luena e a Luacano. Os missionários consideram necessária esta nova missão pois trata-se de retomar a evangelização católica numa região totalmente abandonada. Com a chegada de mais três missionários vamos iniciar ainda este ano a nova missão de Luacano.
