MORTE: ELO DE LIGAÇÃO ENTRE DOIS MUNDOS

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As duas religiões que na Coreia do Sul mais influência exercem sobre a cultura e mentalidade do povo são o Budismo e o Xamanismo. De fato, mesmo que o Cristianismo seja praticado por cerca de trinta e cinco por cento da população (25 por cento são Protestantes e dez por cento Católicos), a influência destas duas formas religiosas são bastante marcantes. O Budismo chegou à Coreia vindo da China no ano 372 (ou 800 anos depois da morte do Buda) enquanto o Xamanismo faz parte do DNA cultural dos coreanos, como acontece noutros povos e latitudes. Embora a categorização do Xamanismo como sendo uma religião seja negada por muito, resta verdadeiro o fato que esta filosofia de vida tem muitas conotações religiosas. Mas estas duas formas de expressão religiosa não são radicalmente distintas uma da outra, porque o Budismo misturou-se com o Xamanismo ao longo dos tempos, algo que acontece ainda hoje. Mais ainda: o Confucionismo, não uma religião mas sim uma ideologia ou filosofia de vida, também ele oriundo da China, influenciou a cultura coreana e o modo de pensar e viver a relação com os mortos através de um rito muito particular e praticado por quase todos os coreanos, exceto pelos Protestantes (por o considerarem uma forma de idolatria): o “jessa”, rito dos antepassados, celebrado normalmente no dia de aniversário da morte do antepassado. Ele consiste essencialmente na preparação de comida variada, como símbolo de comunhão entre os dois mundos, e de uma série de vénias, bem como de jaculatórias várias, que no caso dos católicos foram substituídas pelos salmos e outras orações, incluindo a do Pai-nosso.

Aspirando o Nirvana

O que diz o Budismo sobre a morte? Basicamente, diz que com morte tem início um ciclo de reencarnações com o objetivo de alcançar o estado de paz completa, de uma existência “perfeita”. Ou seja, o ser humano nasce, cresce, envelhece, morre e renasce noutro corpo, repetindo o mesmo ciclo. O renascimento pode acontecer sob a forma humana, divina, animal… ou a pessoa pode renascer para ser punido no inferno. Quando a morte ocorre, todas as forças “karmicas” (“karma” significa ação: ação que nasce de uma intenção, a qual tem um resultado específico, com causas e condições específicas) que o morto acumulou durante a vida são ativadas, determinando assim a próxima reencarnação. Para os vivos, a morte é uma oportunidade de assistir a pessoa que morreu na sua preparação para a próxima reencarnação. O Budismo acentua muito a importância da morte, porque foi perante a eminência da mesma que Buda se apercebeu da futilidade das preocupações e prazeres deste mundo. O tipo de reencarnação depende do karma, ou seja, quanto maior for o mérito da pessoa nesta vida maior é a possibilidade de reencarnar numa forma superior, enquanto o oposto acontece aos que cometeram mais pecados que méritos. Antes de reencarnar, os maus ficam num inferno para serem purificados. Tanto os que ardem nos infernos como aqueles que já chegaram ao nirvana podem mudar sua sorte. Os condenados podem reencarnar e pagar seus pecados, enquanto que os que chegaram à divindade podem gastar seus méritos e voltar ao mundo humano. Nenhum estado é definitivo.

Só pessoas muito puras, com grande espiritualidade podem renascer diretamente nos céus, sem a necessidade de retornar a outras reencarnações. Para isto, os budistas se esmeram na meditação. O próprio Buda é entendido como um ser humano que chegou ao Nirvana e nunca mais precisa reencarnar Os fiéis budistas celebram também o “jessa”.

 

O mundo dos espíritos

Tal como outros povos do leste asiático, também os coreanos não são seguidores exclusivos de uma só religião ou crença. A visão religiosa deste povo tem as suas raízes mais remotas no Xamanismo. Ou seja, também entre católicos há sempre quem faça certas coisas por influência do Xamanismo ou Confucionismo, mesmo que, como vimos antes, o Confucionismo não seja uma religião no sentido original do termo. Segundo o Xamanismo, existe numa espécie de Deus criador (que porém nada tem a ver com o nosso), que está acima de todos os deuses e espíritos. Existem também três mundos: o mundo dos espíritos, o mundo dos humanos e um mundo intermédio. Este terceiro é, digamos, uma espécie de “purgatório”, onde os antepassados que não foram diretamente para o mundo dos espíritos ficam até que a Xamana os libere e os envie para lá. A crença neste mundo habitado por espíritos é a forma mais antiga de religiosidade coreana, porque remonta aos tempos pré-históricos. Existe uma série infinita de divindade e espíritos, os quais têm o poder de influenciar a vida dos seres humanos. Desde os deuses que governam os diversos espaços do céu aos espíritos da montanha; de facto, é frequente encontrarem-se restos de comida e velas que foram usadas em rituais xamânicos quando se fazem passeios ou caminhadas pelas montanhas, sobretudo nas que são mais famosas pela particularidade dos seus espíritos. Existem também os deuses que habitam, as árvores e cavernas sagradas, espíritos travessos e fantasmas de pessoas que neste mundo encontraram uma morte violenta ou trágica.

No meio disto tudo, encontramos a figura da Xamana, a qual é feminina em, digamos, 98 por cento. De facto, são raros os Xamanos na Coreia. A Xamana tem o poder de servir de elo de ligação entre este nosso mundo e o dos espíritos, incluindo com o mundo intermédio. Como tal, ela tem a capacidade de libertar os espíritos que ficaram encurralados neste mundo intermédio e mandá-los para o mundo dos espíritos. Para tal, serve-se habitualmente de um rito muito especial, chamado “kut”, no qual a Xamana, após entrar numa espécie de transe, comunica com o mundo do além, servindo de mediadora entre os vivos e os mortos. O “kut” é usado geralmente para a resolução de conflitos ou de problemas que, por causa da morte inesperada de alguém, ficaram por resolver. Assim, este rito tem não só como fim a libertação dos espíritos do tal mundo intermédio, mas serve também para apaziguar o coração dos que ficam neste mundo. Em relação à figura da xamana, ela é considerada como uma “médica espiritual”, pois dedica-se à saúde e bem-estar do corpo em todos os seus aspectos. Para ela, todo o mal tem origem espiritual, o qual se manifesta em corpos subtis até influenciar o corpo físico. Ela própria passou por uma experiência quase “miraculosa” (cura inexplicável de um mal físico) para se tornar numa xamana. Como tal, após anos intensos de um “noviciado”, feito sob a direção de outra xamana, ela fica finalmente apta para servir de elo de ligação entre os dois mundos, este e o intermédio.
Achei curiosa uma definição do Xamanismo que encontrei na net: “O Xamanismo não é um sistema de fé. É um sistema baseado na experiência. As Xamanas não acreditam em espíritos: falam com eles, interagem com eles.” De facto, o núcleo da ação da Xamana é precisamente esta capacidade de interagir com o mundo dos espíritos. Escusado será dizer que os “kuts” são ritos extremamente caros e em geral duram vários dias. Quando alguém precisa de contatar um antepassado, a pessoa leva roupas que pertenciam, a esse defunto; entretanto, a xamana prepara-se para entrar no transe que a permitirá contatar o mundo do além através de uma dança.

Pessoalmente, nunca assisti a nenhum destes “kuts” longos, exceto uma vez durante uma “exibição” de xamanas coreanas e uma da Mongólia, nos jardins de um palácio real, em Seul. Enquanto a xamana mongola disse não conseguir entrar em contato com os espíritos por causa de interferências várias, as duas xamanas coreanas (uma mestra de muita idade e sua discípula) conseguiram não só realizar o “kut” como… deixar de boca aberta quem se encontrava diante de semelhante rito pela primeira vez. Claro que as xamanas garantem o sucesso do rito; nos casos em que isso não acontece, encontram sempre explicação para o sucedido.

As xamanas estão espalhadas um pouco por toda a Coreia, mas encontram-se sobretudo em áreas mais rurais.

 

Exemplo de inculturação

Diante destes ritos tradicionais, nomeadamente do “jessa”, a Igreja Católica decidiu, após vários anos de rejeição, incluir este rito na sua liturgia. Tal ocorreu em 1939, quando o papa Pio XII reconheceu formalmente estes ritos ancestrais como sendo um rito civil. Hoje em dia, na festa das colheitas ou nos cemitérios, em casa ou nas igrejas, durante a celebração da Eucaristia ou nos funerais ou ritos dos defuntos, os católicos celebram o “jessa” com uma liturgia adatada, de modo a dar continuidade a um elemento central da cultura deste povo.

Porém, a veneração dos antepassados tem sofrido alterações significativas nos últimos tempos. Muitos “jessa” são realizados só em relação a duas gerações de antepassados, com muitas pessoas fazendo-o só em relação aos seus pais. De qualquer modo, estas tradições permanecem vivas como parte fundamental e integral da cultura coreana, os quais são fielmente observados. Estes ritos continuam a exercer um papel importante na sociedade moderna coreana.  

 

 

 

Last modified on Thursday, 05 February 2015 17:05
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