Viagem do Papa Francisco a Moçambique: Uma mensagem de esperança, paz e reconciliação

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A viagem do Papa Francisco a Moçambique, ocorrida entre 4 e 6 de Setembro, foi a concretização de um sonho há muito acalentado por todos os Moçambicanos.

Não obstante algumas vozes discordantes pela oportunidade da visita, ocorrida em plena campanha eleitoral, o impacto da vinda do Santo Padre sobrepôs-se aos eventuais aproveitamentos ou protestos que pudessem sobressair.

A onda de afeto suscitada pela figura simples de Francisco irmanou todos os moçambicanos independentemente das opções partidárias, etnias ou mesmo confissões religiosas. De Moçambique, da África do Sul, da Europa foram dezenas de milhares de pessoas que acorreram para ouvir e expressar a sua amizade e comunhão com o Sumo Pontífice da Igreja Católica.

Os efeitos que se esperavam após a visita, na realidade anteciparam-se, sentindo-se desde o primeiro dia um ambiente de paz, concórdia e união. Os Moçambicanos encheram as ruas de Maputo na espera do sucessor de Pedro e aclamaram com júbilo a sua passagem, nas ruas por onde passou logo no dia 4, dia da sua chegada e também depois, no intervalo dos vários compromissos da sua agenda intensa.

O primeiro compromisso oficial, no dia 5 de Setembro, foi a visita ao Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, no Palácio presidencial “Ponta Vermelha”. Às autoridades moçambicanas, com frontalidade e espírito apaziguador, Francisco pediu a "coragem da paz" ao mesmo tempo que o seu primeiro pensamento se voltava para as vítimas dos recentes ciclones Idai e Kenneth.

Apelando à paz, o Pontífice dedicou grande parte do seu pronunciamento, aludindo ao recente acordo assinado na Serra da Gorongosa engtre o Governo e a RENAMO para a cessação definitiva das hostilidades militares e o Acordo Geral de 1992 em Roma e referiu: “A história não deve ser escrita pela luta fratricida, mas pela capacidade de se reconhecer como irmãos. É preciso ter “a coragem da paz! Uma coragem de alta qualidade: não a da força bruta e da violência, mas aquela que se concretiza na busca incansável do bem comum”.

O Pontífice incitou as autoridades a prosseguirem no caminho do desenvolvimento, avançando nas áreas da educação e da saúde, “para que ninguém se sinta abandonado”, especialmente os jovens. – “ Não cesseis os esforços enquanto houver crianças e adolescentes sem educação, famílias sem teto, trabalhadores sem trabalho, camponeses sem terra... Tais são as bases dum futuro de esperança, porque futuro de dignidade! Tais são as armas da paz.”

No mesmo dia, num Encontro inter-religioso reuniram-se no pavilhão do Maxaquene mais de 4 mil jovens cristãos, muçulmanos e hinduístas para um grande encontro com o Sumo Pontífice no

O Papa Francisco pronunciou o segundo discurso do dia e desafiou os jovens a serem testemunhos de paz e reconciliação no país incentivando-os a não se resignar diante das provações e ter cautela com a ansiedade que pode criar barreiras para realizar os sonhos.

Durante cerca de uma hora os jovens apresentaram-se, através da arte do canto e diversas coreografias, demonstrando diferentes temas e motivos das suas preocupações. Um hino comum às várias confissões religiosas também foi interpretado na ocasião que precedeu o discurso do Pontífice que disse:

“O que há de mais importante para um pastor do que encontrar-se com os seus jovens? Vocês são importantes! Precisam saber disso, precisam acreditar nisso: vocês são importantes! Mas com humildade porque não são apenas o futuro de Moçambique ou da Igreja e da humanidade; vocês são o presente de Moçambique! Com tudo o que são e fazem, já estão contribuindo para ele com o melhor que hoje podem dar ”

O Papa enalteceu a alegria que caracteriza o povo de Moçambique. É uma “alegria que reconcilia e se torna o melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles que querem dividir, fragmentar ou contrapor.”.

A presença das diferentes confissões religiosas no local também foi elogiada pelo Pontífice, demonstrando a união familiar através do “desafio da paz”, da esperança e da reconciliação. Com essa experiência, disse ele, é possível perceber que “todos somos necessários: com as nossas diferenças, mas necessários”.

“Vocês, jovens, caminham com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, vocês colocam um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir. Vocês têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança! São uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade que não devem perder nem deixar que lhe roubem. ”

Ainda no dia 5, o Papa manteve na Catedral de Maputo um encontro com bispos, sacerdotes, religiosos, catequistas e seminaristas.  Na sua intervenção, o Pontífice fez um convite à renovação do chamamento vocacional, da fé e da esperança e referiu-se à crise de identidade sacerdotal e como lutar contra ela.

Perante a crise de identidade sacerdotal, talvez tenhamos que sair dos lugares importantes e solenes; temos de voltar aos lugares onde fomos chamados, onde era evidente que a iniciativa e o poder eram de Deus. Às vezes sem querer, sem culpa moral, habituamo-nos a identificar a nossa atividade quotidiana de sacerdotes com certos ritos, com reuniões e colóquios, onde o lugar que ocupamos na reunião, na mesa ou na sala é de hierarquia.”

E acrescentou:

Creio não exagerar se dissermos que o sacerdote é uma pessoa muito pequena: a grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o ministério relega-nos entre os menores dos homens. (…) O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças.”

Francisco concluiu destacando que a Igreja em Moçambique é convidada a ser a Igreja da Visitação: “porta de solução, espaço onde sejam possíveis o respeito, o intercâmbio e o diálogo”.

No último dia da sua visita o Papa Francisco celebrou missa no estádio do Zimpeto. Os cristãos começaram a chegar ao local a partir das 5h30 da manhã e ordeiramente, foram enchendo os lugares, devidamente assinalados. O ambiente no estádio era extraordinário. A alegria de todos, contagiante. Nem o frio, nem a chuva que começou a cair e permaneceu durante toda a celebração desanimou os presentes.

Na sua homilia, o Papa refletiu sobre uma passagem do Sermão da Planície. Depois de escolher os seus discípulos e ter proclamado as Bem-aventuranças, Jesus acrescenta: «Digo-vos a vós que Me escutais: “Amai os vossos inimigos”» (Lc 6, 27).

“ Jesus não é um idealista, que ignora a realidade; está a falar do inimigo concreto, do inimigo real, que descrevera na Bem-aventurança anterior: aquele que nos odeia, expulsa, insulta e rejeita como infame. ”

Portanto, explicou Francisco, Jesus não nos convida a um amor abstrato, etéreo ou teórico, redigido em escrivaninhas para discursos, mas a seguir o seu exemplo, pois amou aqueles que o traíram e o mataram.

Conhecedor da realidade moçambicana, o Papa não hesita em colocar o dedo na ferida quando disse: É difícil falar de reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdia, mas apontou o exemplo de Cristo “mesmo assim Jesus Cristo convida a amar e a fazer o bem. Isso vai além de simplesmente ignorar nosso inimigo, mas implica também abençoar e rezar por ele. Alta é a medida que o Mestre nos propõe!”

... “Superar os tempos de divisão e violência supõe (…) o compromisso diário de cada um de nós. Trata-se de uma atitude, não de fracos, mas de fortes, uma atitude de homens e mulheres que descobrem que não é necessário maltratar, denegrir ou esmagar para se sentirem importantes; antes, pelo contrário... ”

Incisivo e numa das duas declarações mais políticas e corajosas o Papa apontou para o paradoxo de Moçambique: um território cheio de riquezas naturais e culturais, mas com uma quantidade enorme da sua população abaixo do nível de pobreza. “E por vezes parece que aqueles que se aproximam com o suposto desejo de ajudar, têm outros interesses. E é triste quando isto se verifica entre irmãos da mesma terra, que se deixam corromper; é muito perigoso aceitar que a corrupção seja o preço que temos de pagar pela ajuda externa."

Agir a serviço de interesses políticos ou pessoais é ser ideológico. Este é o termômetro, disse o Papa. “Se Jesus for o árbitro entre as emoções em conflito do nosso coração, entre as decisões complexas do nosso país, então Moçambique tem garantido um futuro de esperança.”

Antes de deixar o estádio, Francisco fez sua saudação final e dirigiu-se diretamente ao aeroporto internacional de Maputo. Em todos permanece indelével a marca da sua presença e da sua mensagem.

Dom Diamantino (centro atrás) com o Papa Francisco

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