Em Memória do Padre Adelino da Conceição Francisco IMC (1941-2019)

Published in I missionari dicono

O Padre Adelino Fancisco foi um vivo retrato de trabalho, caridade e fé. O Instituto dos Missionários da Consolata e todos os que com ele conviveram perderam um grande missionário que, em Inhambane e Maputo, em Moçambique, foi e continua a ser uma referência.

Permitam-me recordar o seu percurso missionário e depois juntar umas palavras sobre a sua acção e missão.

Breve biografia

O Padre Adelino nasceu em São Simão de Litém, Pombal (Portugal), a 9 de novembro de 1941. Entrou no Instituto em 16 de outubro de 1956, emitiu a primeira profissão religiosa a 2 de outubro de 1963 e foi ordenado sacerdote em 29 de março de 1969. Os primeiros anos do seu sacerdócio foram vividos em Portugal, no trabalho de formação dos seminaristas, animação missionária e vocacional em Fátima.

O desejo de partir para a missão batia forte no seu coração É destinado a Moçambique onde chega no 17 de outubro de 1974, num momento em que moçambique se preparava para a independência nacional. Começou por trabalhar na diocese de Inhambane em 13 de novembro de 1974 como coadjutor na missão de Mapinhane. Celebrou a independência nacional em 25 de Junho de 1975 em festa com o povo moçambicano. Sofreu com ele as penas dos excessos da revolução e a violência da guerra. Dedicou-se com empenho no estudo da cultura e língua do povo Tshwa de Inhambane, da qual se tornou conhecedor e falante.

A 1 de abril de 1976 foi nomeado superior da missão de Muvamba, no distrito de Massinga. Foi raptado nesta missão no dia 16 de setembro de 1982 com toda a equipa missionária, sendo libertado alguns meses depois no Zimbabwe depois de ter percorrido centenas de quilómetros a pé no meio de perigos e privações.

Foi pároco de Massinga e Funhalouro (1983–1986) em plena guerra civil. Em 1986 é destinado à paróquia da Machava, na arquidiocese de Maputo, onde trabalha na pastoral e na formação no seminário da Consolata instalado na paróquia da Machava e é também pároco da paróquia de Liqueleva (1986–1991).

A 9 de outubro de 1991 foi transferido para a diocese de Inhambane e é nomeado pároco de Massinga. Em 1999 foi transferido para Maputo como vice-mestre no noviciado dos Missionários da Consolata em Laulane. Em fevereiro de 2005 regressa à diocese de Inhambane e é colocado como vigário paroquial na paróquia do Guiúa. A 2 de maio de 2007 é nomeado vigário paroquial e em seguida pároco de Nova Mambone. Em 2010 regressa ao noviciado de Laulane. Em janeiro de 2013 regressa definitivamente a Portugal por motivos de saúde. No passado dia 2 de Fevereiro, depois de prolongada e sofrida doença, partiu para junto de Deus e dos seus.

A obra, mas sobretudo o bom testemunho, por ele deixados porém permanecem. Em tudo este missionário amou e serviu.

A experiência do rapto e cativeiro

Conheci o Padre Adelino nesta igreja em Fevereiro de 1983 depois da sua libertação do cativeiro da guerrilha moçambicana. Eu era então um seminarista adolescente e fiquei impressionado pelo testemunho que nos deu da sua dura e perigosa experiência nas mãos da guerrilha. Me impressionou duas coisas: o facto de que não guardava ressentimento por aqueles que o tinham feito muito sofrer; por outro lado a sua vontade de voltar a Moçambique, um país em guerra, onde faltava tudo, e onde tinha passado maus momentos.

A experiência do rapto provou a sua fé, no sentido positivo, e marcou-o na alma e no corpo. Vale a pena recordar este episódio, talvez não conhecido por todos.

Durante a terrível guerra civil que assolou Moçambique entre 1976 e 1992, os guerrilheiros da Renamo, que combatiam o regime marxista-leninita do partido Frelimo, serviram-se do sequestro de estrangeiros para chamar sobre si a atenção da opinião pública internacional. Depois do rapto de alguns cooperantes, chegou a vez dos missionários. O primeiro grupo de religiosos sequestrados em Moçambique era constituído por missionários e missionárias da Consolata que trabalhavam na diocese de Inhambane.

Coube a sorte em primeiro lugar ao Padre José Alessandria, da missão de Maimelane. No dia 16 de Julho de 1982, pela manhã, homens armados da Renamo cercaram a missão e obrigaram o missionário a ir com eles. Assim foi. O Padre Adelino, com as missionárias da Consolata trabalhava então na Missão de Muvamba, não muito longe da missão onde o Padre Alessandria fora raptado. Estavam conscientes do perigo que corriam, porque os guerrilheiros estavam infiltrando-se na região. Mas, preferiram ficar com o povo, sofrer com ele, em vez de se retirarem para um lugar mais seguro.

Assim, numa bela manhã de 16 de Setembro de 1982, um grupo de guerrilheiros entra na missão de Muvamba. O Padre Adelino, vestido de fato macaco, estava a mudar o óleo e os filtros do Land Rover da Missão. Obrigaram-no a segui-los assim como estava, sem levar nada consigo. O mesmo aconteceu às Irmãs da Consolata que trabalhavam na missão: Teotina Cariolato, Bona Pischedda, Rosella Casiraghi e Agnes Mainhardt. Depois de 10 dias de caminhada por zonas desérticas do interior de Inhambane, onde sofreram fome e sede, chegaram à base central da guerrilha em Tome, onde se encontraram com o Padre Alessandria raptado anteriormente. A alegria do reencontro fraterno. A estadia nesta base durou um mês, de 26 de Setembro até 26 de Outubro. Uma paragem que os ajudou a recuperar as forças perdidas e que os impeliu a fazer tudo o que era possível para tornarem menos insuportável o cativeiro. Passaram o tempo a rezar, meditar, curar os doentes e a evangelizar com o seu testemunho. Pairava sobre as suas cabeças a incógnita de quando e como acabaria esta aventura. A 26 de Outubro, escoltados pelos guerrilheiros, deixaram a base rumo a norte. Caminharam cerca de 200 quilómetros para noroeste em direcção ao rio Save. Pelo caminho caíram em duas emboscadas das tropas governamentais. No dia 20 de Novembro chegaram a uma nova base.

Sobre esta experiência, escreveu o Padre Adelino no seu diário: De manhã cedo acordávamos ao grito das palavras de ordem que nos acompanhariam durante toda a caminhada: “Acordar-Preparar-Avançar”. Caminhámos em seguida interruptamente durante 10 dias até mais não poder. No silêncio do mato a mãe natureza acompanhava o nosso tão estranho peregrinar e só Deus encorajava os nossos corações amedrontados. Tivemos que amarrar panos nos pés, pois o único calçado que levávamos nos pés não era o apropriado para caminhar na floresta e além disso ía desaparecendo aos bocadinhos. Às dificuldades lógicas da alimentação, do alojamento, dos carreiros no mato, do sol do dia e do frio da noite e das feridas nos pés, precisa acrescentar a maior de todas: a sede!

…O único conforto da jornada era a Hora de Oração que tínhamos todos os dias perante a impossibilidade de celebrar a Eucaristia. Era tempo de reflexão, tempo de partilha espiritual, tempo de descobrir esperança. Estávamos privados completamente de todo o sinal litúrgico: nem pão, nem vinho, nem livros, nem vestes sagradas.

Depois de vários dias de caminhada, no dia 13 de Novembro chegaram ao rio Save. A travessia deste rio que divide as províncias de Inhambane e a de manica foi o momento de grande risco. Escreveu o Padre Adelino no seu diário: Foi outro dos momentos mais perigosos que atravessámos. Mal chegámos ao rio nos advertiram que estávamos emboscados pelos militares do governo. Houve uma forte e intensa troca de tiros entre os guerrilheiros e os soldados governamentais. Estávamos escondidos entre as árvores. Em toda a parte sentiam-se os disparos, as balas quase roçavam os corpos como que a querem acariciar as nossas cabeças e as nossas costas. Afugentado o perigo, atravessámos o rio Save em fila indiana, pondo os pés nas pisadas de um guerrilheiro que ia à frente por causa das minas.

Estávamos na província de Manica. A zona era acidentada e perigosa. Foram mais 2 semanas de caminhada entre perigos e privações. O calvário durou até à noite de 25 de Novembro de 1982, altura em que foram libertados na fronteira com o Zimbabwe, depois de terem caminhado mil e duzentos quilómetros a pé, atrás dos guerrilheiros, totalmente percorridos em ziguezague pelo meio do mato, alimentando-se como melhor puderam.

Fotografia depois da libertacao do cativeiro da Renamo, 1982

Fotografia depois da libertacao do cativeiro da Renamo, 1982

Um Homem de Fé

O Padre Adelino era um homem de uma fé simples e profunda. Fiel à oração diária, um contemplativo na acção.

Tinha forte sensibilidade pastoral. Sempre disponível para visitar e acompanhar as comunidades cristãs e nelas lançar a Palavra de Deus.

Foi heroico durante a guerra civil em Moçambique (1982-1992), sobretudo nos anos em que foi pároco na missão de Massinga, Muvamba e Funhalouro e enfrentava todos os riscos (ataques e minas anti-carro) para celebrar a Missa nas comunidades. Não olhava aos perigos. Não tinha medo da morte.

Formador de missionários

Em 1986 os missionários da Consolata decidem abrir um seminário para a formação de missionários da Consolata em Moçambique. O Padre Adelino, que trabalhava na missão de Massinga, foi escolhido, dadas as suas qualidades humanas e espirituais, para dirigir este seminário que teve que reinventar pois era uma experiência nova. Havia jovens que queriam ser missionários, mas não havia casa que servisse de seminário. Improvisou-se, alojando os seminaristas nos anexos da paróquia da Machava. Naquela pobreza de meios nasceu o Seminário de Nossa Senhora da Consolata.

Durante 6 anos orientou o seminário, formando mais com o seu exemplo do que com palavras, dezenas de seminaristas, alguns dos quais hoje são missionários da Consolata.

Missionário exemplar

O Padre Adelino é para nós missionários da Consolata um exemplo e uma inspiração.

Pela sua experiência de vida, amabilidade e disponibilidade incarnava o modelo do sacerdote-missionário que o fundador dos missionários da Consolata, o Beato José Allamano, desejava: “o sacerdote é sobretudo o homem da caridade; ele é padre mais para os outros do que para si mesmo.

Durante a sua vida missionária o padre Adelino inspirou-se nesta regra de vida e incarnou-a na sua acção. Fez o bem, bem feito.

Tendo cumprido sua missão ao lado dos seus, este nosso missionário foi chamado a viver na glória do Senhor. Seja-lhe dado, agora, participar da eternidade reservada para os que, na terra, foram amigos de Deus e fizeram a sua vontade.

Dentro de dias o Padre Adelino ia celebrar os 50 anos de sacerdócio. Agora está junto do Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, celebrando em festa as bodas do Banquete eterno. 

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