Inesperadamente, o Padre Artur Marques partiu para a Casa de Deus Pai.
O Padre Artur foi um vivo retrato de trabalho, caridade e fé. O Instituto dos Missionários da Consolata, de modo particular em Moçambique, e todos os que com ele conviveram perderam um grande missionário que, em Inhambane, Nampula e Maputo, foi e continua a ser uma referência.
Partiu para Moçambique em 1965 e foi neste país que viveu toda a sua vida missionária, 52 anos, dando o melhor de si ao serviço da missão as dioceses de Inhambane, Nampula e Maputo.
No passado dia 22 de Janeiro, próximo de Quissico, província de Inhambane, o carro onde viajava o Padre Artur teve um acidente e ele ficou ferido. Depois dos primeiros socorros no hospital de Inhambane, foi transferido para o Hospital Central de Maputo e depois para Portugal ficando internado no Hospital Santa Maria, em Lisboa onde lentamente vinha convalescendo. A notícia da sua morte no passado sábado acolheu todos de surpresa.
A obra por ele deixada porém permanece. Em tudo este missionário amou e serviu.
Um Homem de Fé
O Padre Artur era um homem de uma fé simples e profunda. Fiel à oração diária, um contemplativo na acção.
Tinha forte sensibilidade pastoral. Sempre disponível para visitar e acompanhar as comunidades cristãs e nelas lançar a Palavra de Deus.
Foi heroico durante a guerra civil em Moçambique (1982-1992), sobretudo nos longos anos em que foi pároco na missão de Massinga e enfrentava todos os riscos (ataques e minas anti-carro) para celebrar a Missa nas comunidades. Não olhava aos perigos. Não tinha medo da morte.
Foi ainda nesses anos, que compôs o catecismo em língua xitshwa “Nza Kholwa Hosi” para a catequese dos adultos, seguindo as etapas do catecumenado. Uma obra doutrinal e pastoral, ainda hoje válida e usada na diocese de Inhambane para a catequese de preparação ao baptismo, eucaristia e crisma.
Formador de sacerdotes
Em 1988 o arcebispo de Nampula pede aos missionários da Consolata que assumam a direcção do Seminário inter-diocesano de Nampula. O P. Artur, embora trabalhasse no sul de Moçambique, foi escolhido, dadas as suas qualidades humanas e espirituais, para dirigir este seminário no norte de Moçambique que teve que reinventar. Primeira tarefa foi a reabilitação dos edifícios do antigo seminário que tinha sido nacionalizado pelo governo e restituído em péssimas condições. Um trabalho que realizou com competência e perfeição num tempo em que escasseava tudo. O padre Artur era perfecionista.
Durante 10 anos orientou o seminário, formando mais com o seu exemplo do que com palavras, centenas seminaristas, muitos dos quais hoje são sacerdotes e que desempenham tarefas de responsabilidade a nível nacional ou nas suas dioceses de origem.
Um trabalhador incansável e competente
Para o Padre Artur o trabalho manual, juntamente com o apostolado e os compromissos da vida religiosa, era parte integrante do seu dia-a-dia. O trabalho organizado e feito com perfeição foi um aspecto educativo que marcou a sua acção evangelizadora nas missões onde trabalhou. Era competente na orientação das obras, e muito construiu. Sabia ser exigente e ao mesmo tempo amigo dos muito trabalhadores que orientou e formou, de modo particular na Salina de Batanhe, na Missão de Nova Mambone.
Nova Mambone, a sua última missão
A sua acção nesta sua última missão é um exemplo da sua maneira de ser e de estar. Aqui trabalho no vigor da suas forças, entre 1976 e 1982, e no final da sua vida. A acção pastoral foi sempre uma prioridade que manteve com dedicação e empenho apesar dos seus 80 anos, continuava a sair por vários dias, para visitar as comunidades longínquas, acampando no mato, sem olhar ao conforto ou às suas limitações físicas, sendo presença de Deus junto dos que nada têm. O trabalho que desenvolveu na salina foi notável. Foi responsável pelo planeamento da sua ampliação, que gizou meticulosamente, assegurando-se também da parte técnica e mecânica, necessárias ao seu bom funcionamento. Permitiu que a salina aumentasse a produção em 50%. Ao mesmo tempo abriu-se à novidade e soube acolher novas ideias. A ele devemos a extração da flor de sal, graças ao estudo metódico, às experiências, à calma ponderada com que dava cada passo. Assim o fez nas outras atividades, com a discrição e a sabedoria dos que não procuram o protagonismo.
Missionário exemplar
O Padre Artur é para nós missionários da Consolata em Moçambique um exemplo e uma inspiração. Era o missionário com mais anos de presença e serviço neste país que amava e onde é reconhecido e estimado há 52 fecundos anos.
Pela sua experiência de vida, amabilidade e disponibilidade incarnava o modelo do sacerdote-missionário que o fundador dos missionários da Consolata, o Beato José Allamano, desejava: “o sacerdote é sobretudo o homem da caridade; ele é padre mais para os outros do que para si mesmo". Durante a sua vida missionária o padre Artur inspirou-se nesta regra de vida e incarnou-a na sua acção. Fez o bem, bem feito.
Tendo cumprido sua missão ao lado dos seus, este nosso missionário foi chamado a viver na glória do Senhor. Seja-lhe dado, agora, participar da eternidade reservada para os que, na terra, foram amigos de Deus e fizeram a sua vontade.
Peçamos as bênçãos e a consolação do Pai a todos os familiares, amigos e a todos que sentem a partida deste nosso querido irmão.
Dai-lhe Senhor o eterno descanso.