RENOVAR-SE NO PRÓPRIO MINISTÉRIO

Published in Missione Oggi
 INTRODUÇÃO

 

João Paulo II, dirigindo-se aos sacerdotes, diz que “os retiros, os dias de recolecção e de espiritualidade constituem ocasião para um crescimento espiritual e pastoral, para uma oração mais prolongada e calma, para um regresso às raízes do seu ser sacerdote, para reencontar vigor de motivações para a fidelidade e o impulso pastoral (Pastores dabo vobis, 80).

 

Antes de mais nada, convidamos a Cristo para nos acompanhar no caminho do nosso crescimento espiritual. Ele é a fonte, a cabeça, o esposo, o modelo da nossa vida e da nossa missão pastoral.

Abramos o nosso coração para escutar a sua Palavra com a que nos chama:

 

Vós sois meus amigos” (Jo 15,14);

, “Permanecei no meu amor” (Jo 15,9).

Deixai tudo e segui-me (Cf.Mt 19,23-30)

Que todos sejam um só para que o mundo creia” (Jo 17,21);

Ide, pois, e fazei meus discípulos de todos os povos” (Mt 28,19-20);

Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15-17).

 

Como pastores, somos importante para Deus, para a Igreja e para as nossas comunidades.

 

Da nossa renovação dependem tantos frutos para a evangelização do nosso povo.

 

Para este fim, é necessário ajudar-nos entre nós nesta renovação da nossa vida e ministério, e ajudar os outros irmãos no sacerdócio. É preciso convertermo-nos em verdadeiros irmãos, amigos, colaboradores dos Bispos, sacerdotes e diáconos, do nosso presbitério diocesano e de toda a igreja.

 

Tantos meios temos ao nosso dispor: encontros diários de oração nas comunidades onde nos encontramos, dias de retiro mensal, o retiro anual, encontros de formação permanente, etc. Neste sentido devemos reforçar e revitalizar a nossa vida sacerdotal e apostólica.

Como ajudar-nos mutuamente no seguimento evangélico do Bom Pastor no presbitério diocesano, a nossa comunhão fraterna, o nosso ministério como servidores do povo de Deus.

 

Devemos melhorar a nossa vida, a qualidade da nossa vida sacerdotal e do nosso serviço às comunidades que nos foram entregues pelo Senhor.

 

 

Devemos estar unidos em comunhão de vida e de serviços, para nos ajudarmos a superar a solidão, o individualismo, as dificuldades pessoais, as discriminações e injustiças; para partilharmos experiências a apoiarmo-nos no ministério; para percorrermo-nos juntos um caminho de crescimento espiritual, segundo a nossa própria espiritualidade diocesana; a ajudarmo-nos como irmãos no sacerdócio.

 

O Concílio Vaticano II insiste em que os sacerdotes diocesanos fomentem a comunhão fraterna e se ajudem na própria santificação como pastores (PO, 8).

Devemos, pois promover a união e comunhão entre nós; que esta união seja apostólica, isto é, vivermo-nos como os apóstolos, enraizada em Cristo e consagrada à evangelização. E que seja de todos os diocesanos, bispo, presbíteros e diáconos.

 

Devemo-nos comprometer a ajudarmo-nos mutuamente para atingir a plenitude de vida segundo o Espírito, mediante o exercício do nosso ministério. A nota característica deve ser privilegiar a fraternidade sacerdotal que tem origem no sacramento da Ordem que todos recebemos. Tal fraternidade deve ter como objectivo primordial uma vida de comunhão inspirada no modelo dos apóstolos com Cristo, fundamentada na Trindade e testemunhada no serviço pastoral.

 

Devemos ajudarmo-nos a viver em comunhão fraterna a nossa própria espiritualidade de clero diocesano e a crescermo-nos na dimensão humana, espiritual, intelectual e pastoral, para sermos pastores santos como Ele é santo.

 

Interroguemo-nos sobre a nossa realidade:

Que fazemos actualmente (que meios/instrumentos usamos) para resolvermo-nos os nossos problemas e dificuldades e crescer como sacerdotes bons segundo o coração de Cristo, bom pastor?

 

II.- SEGUIMENTO EVANGÉLICO DO BOM PASTOR

 

A gente se pergunta que somos os sacerdotes, o que nos propomos, qual é a nossa missão.

Até nós próprios nos esforçamo-nos por compreender melhor qual é a nossa identidade, qual é o nosso caminho, o nosso estilo de vida, quais são os serviços que devemos oferecer às comunidades. De facto, temos necessidade de ajudarmo-nos e de ajudar. Estando unidos poderemos ajudar-nos mutuamente a viver segundo a nossa identidade de sacerdotes e pastores do povo de Deus, dando-nos as mãos para vivermo-nos e crescermo-nos com Cristo, como Ele e por Ele.

1.Como os Apóstolos com Jesus

Como aos Apóstolos Cristo pede-nos amá-lo mais do que os demais e cumprir com alegria e fidelidade a missão de apascentar o seu rebanho com Ele, como Ele e por Ele:

“Jesus Perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes? Pedro respondeu-lhe: Sim, Senhor, Tu sabes que sou deveras teu amigo. Jesus disse-lhe:“Apascentas as minhas ovelhas”. (Jo 21,15-17).

 

Jesus continua pedindo-nos “deixá-lo tudo e segui-lo, ser um só e de dar a vida para darmo-nos fruto abundante que permaneça:

 

Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”(Jo 10,11; cfr vv. 7-18).

Não fostes vós que me scolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça” (Jo 15,16).

Que todos sejam um só. Como Tu, Pai, estás em m im e Eu em Ti; para que assim eles estejam em nón e o mundo creia que Tu me enviastes (Jo17,21).

 

O “seguimento de Cristo” é um caminho decisivo de crescimento para nós pastores da Igreja: imitar Jesus Cristo pobre, casto e humilde, assumir os seus sentimentos, encher-se da sua caridade pastoral, faz-nos crescer continuamente na união íntima com Deus, aperfeiçoa-nos na caridade e configura-nos com Cristo.

 

Além disso, torna-nos livres e eficazes como sinais, ministros e servidores do Senhor na comunidade. Ele, que se fez servo de todos, é a nossa fonte e o nosso modelo permanente. Santificar-nos no seguimento e na configuração pessoal com Cristo, Cabeça, Pastor, Servo e Esposo do seu povo é o fundamento da nossa espiritualidade de sacerdotes diocesanos.

 

Como os Apóstolos com Jesus, podemos ajudarmo-nos e ajudar, colaborando com a acção do Espírito Santo, no seguimento de Cristo, segundo a graça recebida no Sacramento da Ordem e na missão que nos foi confiada na Igreja.

Podemos ajudarmo-nos nas circunstâncias concretas em que vivemos e conforme a espiritualidade diocesana, com um seguimento radical, encarnado, inserido no meio do povo, humildes e servos, para sermos sinais do Bom Pastor no meio das comunidades desta Igreja local que nos foram confiadas.

2. Ajudar-nos e ajudar no seguimento de Cristo

 

Jesus pede-nos aos pastores:

 

  • Viver dele, viver a sua vida; viver em profunda amizade e compromisso.

  • Viver como Ele na caridade pastoral, na pobreza e simplicidade evangélica, a castidade pelo Reino e a obediência ao Pai.

  • Viver configurados progressivamente com Cristo Pastor, guia e servo humilde do seu povo.

 

Todo o seguimento de Cristo deve ser feito com generosidade evangélica, segundo a nossa identidade e em conformidade com a realidade da nossa Igreja local.

 

Eis algumas aplicações práticas:

 

  • Ajudar-nos a viver a radicalidade evangélica, como Jesus propõe no sermão da montanha.

  • Esforçar-nos por viver o Evangelho, nós próprios em primeiro lugar, para, depois, podermos transmiti-lo adequadamente às nossas comunidades: Para este fim nos deixaremos modelar pela Palavra, celebrando cada dia a Liturgia das Horas (quando possível comunitariamente) e dedicando um tempo à meditação.

  • Considerar a celebração da Eucaristia o centro da nossa vida. Na celebração diária encontraremos a raiz, a razão de ser, a força e o alimento da nossa vida pastoral.

  • Fazer uma caminhada de conversão pessoal permanente, examinado frequentemente a própria consciência e celebrando o sacramento da reconciliação.

3. Interroguemo-nos para a meditação

 

É necessário ter coragem e lealdade para olharmo-nos interiormente.

Com quê espírito de ânimo começo este encontro?

Há em mi qualquer parede, muro interior… que me impede entrar com serenidade e alegria interior?

Como fazer para superar esta incomodidade, esta dificuldade inicial?

Ou tal vez há a desconfiança de sempre e penso que este encontro será como todos os outros que já fiz? Como fazer para sair deste nevoeiro que obscurece a visão do espírito e torna pesado o ambiente interior?

Ou tal vez temos o receio de empenharmo-nos demasiado?

É suficiente ficarmos como estamos agora mesmo?

 

Temos medo do esforço, da mudança, da novidade…?

Estamos cansados de pensar em coisas fundamentais? Ou talvez nos alegramos de esta oportunidade para podermos dar mais tempo ao dialogo interior, a estarmos a sós com nós mesmos e com Deus, e conversarmos de coração a coração com Ele?

Há qualquer coisa que me mantenha a distância dele?

Começamos desde já a dar-nos conta de que talvez vez tenhamos que rever algumas atitudes?

 

A nossa oração inicial está composta por una pergunta dupla, a pergunta do Mestre e a pergunta do discípulo: “38Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?» (Jo 1,38); e a disposiçâo do jovem Samuel: “10Veio o SENHOR, pôs-se junto dele e chamou-o, como das outras vezes: «Samuel! Samuel!» E Samuel respondeu: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» (1 Sam 3,10).

Os sentimentos que nos devem acompanhar nestes momentos, são os seguintes: disponibilidade para deixarmo-nos conduzir e surpreender por Deus; coragem para continuar pelo caminho começado; e total liberalidade de coração e vontade.

 

 

ENCONTRO DOS SACERDOTES DIOCESANOS COM O BISPO

Casa do Noviciado dos Dehonianos.Gurúè 20.07.2010.

 

 

CHAMADA UNIVERSAL À SANTIDADE

 

Leitura: 1 Pe 1,14-19:

.

14Como filhos obedientes, não vos conformeis com os antigos desejos do tempo da vossa ignorância; 15*mas, assim como é santo aquele que vos chamou, sede santos, vós também, em todo o vosso proceder, 16conforme diz a Escritura:Sede santos, porque Eu sou santo”. 17*E, se invocais como Pai aquele que, sem parcialidade, julga cada um consoante as suas obras, comportai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação; 18*sabendo que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver herdada dos vossos pais, não a preço de bens corruptíveis, prata ou ouro, 19mas pelo sangue precioso de Cristo, qual cordeiro sem defeito nem mancha”.

I. Chamada universal

 

1.Sede santos porque Eu sou santo

 

O Concílio Vaticano II despertou a consciência da chamada universal à santidade: “Todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1 Tess. 4,3; cfr. Ef. 1,4)” (LG 39). “É, pois, claro a todos, que os cristãos de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG 40).

Esta vocação radica-se no Baptismo. Na Igreja santa todos os baptizados estão inseridos na humanidade santa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. A chamada à santidade não está reservada a uma elite. Todos os fiéis de qualquer estado ou condição são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade (LG 40).

 

O Espírito revela-nos e nos comunica a vocação fundamental que o Pai desde a eternidade dirige a todos: a vocação a ser "santos e imaculados na sua presença na caridade", em virtude da predestinação para "sermos seus filhos adoptivos por obra de Jesus Cristo" (Ef 1, 4-5) (PDV 19).

 

O apóstolo Paulo recorda-nos que a essência da vida cristã é a vida animada e guiada pelo Espírito em ordem à santidade e à perfeição da caridade: “Se vivermos do Espírito, caminhemos segundo o Espírito” (Gal 5,25).

 

2. Unidade na diversidade.

 

Diversos caminhos de santidade, segundo a graça recebida.

 

Espírito distribui livremente os seus dons para a edificação do corpo do Ressuscitado. A santidade cultiva-se no facto de fazer frutificar os talentos recebidos. Pelo que a vocação universal à santidade se estrutura em cada um segundo a graça recebida para a edificação da Igreja. A Igreja não é um corpo igualitário, uma associação social, politica, cultural esportiva... A Igreja é um mistério de comunhão e missão; pelo que este dinamismo deve penetrar as diferentes vocações e carismas:

Nos vários géneros e ocupações da vida, é sempre a mesma a santidade que é cultivada por aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus ... Cada um, segundo os próprios dons e funções, deve progredir sem desfalecimentos pelo caminho da fé viva, que estimula a esperança e que actua pela caridade“(LG 41).

A exemplo do Deus Trino e Único, a comunhão eclesial exige intrinsecamente a diversidade de pessoas e funções em ordem à missão da Igreja; e, ao mesmo tempo, exige a unidade das diferencias pessoais. Cada pessoa contribui de modo especifico à obra comum. A igualdade de pessoas não significa uniformidade igualitária, mas sim unidade no ser e no agir, segundo a graça, a vocação e a missão recebidas.

 

II. Traços da caminhada apostólica à santidade

 

1.Consagração e evangelização

A afirmação do Concílio de chamada universal à santidade, encontra particular aplicação no nosso caso de consagrados ao sacerdócio ministerial, onde consagração e missão encontram-se intrinsecamente unidas:

A universal vocação à santidade está estritamente ligada à universal vocação à missão: todo o fiel é chamado à santidade e à missão. Este foi o voto ardente do Concílio ao desejar, « com a luz de Cristo reflectida no rosto da Igreja, iluminar todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura ».A espiritualidade missionária da Igreja é um caminho orientado para a santidade” (RM 90).

 

A espiritualidade do clero diocesano caracteriza-se, além disso, pela caridade apostólica

 

Antes de mais nada torna-se necessário afirmar claramente que o pastor, o sacerdote, portador do ministério do Espírito e da justiça vive a vocação universal à santidade através do exercício deste ministério de vida e de liberdade

O presbítero desenvolve a sua vocação, no meio da Igreja santa, através do cultivo da graça que lhe foi conferida. A identidade e a missão do presbítero exige uma maneira especifica de viver e agir na historia. Pelo que torna-se necessário e conveniente pensar numa espiritualidade adequada ao seu ser.

 

2. Dom do Espírito à Igreja

 

'E necessário ter renovada consciência de que o sacerdócio ministerial é um dom do Espírito à Igreja, para não cair na óptica de pensar o ministério desde caminhos da sociologia ou simplesmente do funcionalismo das instituições eclesiais. Paulo o lembra várias vezes aos seus colaboradores e às primeiras comunidades.

2Cor 5,18: ” 18*Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação”.

 

Act 20, 28: “28*Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue”.

 

 

A consciência de ser dom de Deus para a Igreja, dá à avida espiritual do missionário um dinamismo todo particular. Ele deve produzir frutos de justiça e do Espírito na sua acção pastoral.

Jesus viu e recebeu os seus discípulos como dom do Pai. Chamou-os e cuidou deles como um verdadeiro dom:

Jo 17,6: “6Dei-te a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos entregaste e têm guardado a tua palavra”.

 

Ao aceitar pertencer de modo incondicional a Cristo, o Filho, o discípulo consente caminhar pela via do amor e do serviço ao mundo:

Jo 17, 11. 16-18: “ 11*Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti. Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos!16De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo.
17*Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. 18Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo”.

 

A consagração do discípulo ao Cristo, Paulo expressa-a em termos de serviço. Ele apresenta-se como o servo de Cristo Jesus: “1*Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus” (Rm 1,1). E por isso mesmo, servo da comunidade: “5Pois, não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus” (2Cor 4,5).

 

Ter cura de si próprio é cultivar a união com Cristo servidor, que deu a vida para reunir os filhos dispersos, e só se pode realizar reunindo e servindo a comunidade. O missionário une-se e configura-se com Jesus no serviço.

 

As consequências destas afirmações para o desenvolvimento de una espiritualidade missionária são enormes.

Ninguém pode reivindicar como seu o ministério, pois é o Pai que livremente entrega os discípulos a seu Filho: “ 4*E ninguém tome esta honra para si mesmo, mas somente quem é chamado por Deus, tal como Aarão” (Hbr 5,4).

 

O Espírito poe o apóstolos como servidores vigilantes do seu povo que "peregrina entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, anunciando a cruz do Senhor até ao seu retorno"

(LG 8).

 

Para levar a bom termo o serviço de "vigilância apostólica", apóstolo deixará ao lado os próprios interesses, dando prioridade aos interesses da comunidade. A consciência de ser dom de Deus para o seu povo, conduzi-lo-à ao despojamento, à pobreza, à gratuidade: “ *Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9).

 

 

3. No espírito do pastor messiânico

 

 

O apóstolo não seria coerente se ele não tratara de unir-se e identificar-se com Cristo. O poder de agir em nome de Cristo é fonte de uma radicalidade evangélica. Esta dimensão

da nossa vida não a podemos confundir com a lógica do poder social e humano nem muito menos com o autoritarismo.

 

O Espírito transforma o ser e o agir do apóstolo para que continue a ser o principio de vida do seu povo. O apóstolo recebe a missão de ser um signo eficaz da presença imediata de Cristo. Ele, por tanto, deve viver de tal maneira que seja transparência de Cristo.

 

 

O apostolo é consciente de que Cristo o salvou. Dai surge nele a gratidão para quem o amou, se entregou por ele e considerou-o digno de confiança ao chama-lo ao ministério.

 

A acção do Espírito consagra quem foi chamado como signo e instrumento da acção salvífica e santificadora de Cristo. A espiritualidade apostólica deve ter conta esta realidade. Não é algo superficial ou secundário na sua personalidade. O ministro do Evangelho é testemunha e servidor na sua totalidade. A sua identidade não pode ficar reduzida a umas funções e relações, embora deva expressar-se através delas.

 

Enviados no Espírito do Messias

 

O chamado à missão recebe o Espírito para uma nova tarefa na Igreja e no mundo e uma nova configuração interior para a a missão que lhe foi confiada, que tem as sus raízes no Baptismo e na Confirmação.

 

O Espírito penetra toda a humanidade de quem é chamado, como em Jesus: 18*«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres;enviou-me
a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista;a mandar em liberdade os oprimidos" (Lc 4,18).Como Jesus que foi consagrado e enviado ao mundo: “36a mim, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: 'Tu blasfemas', por Eu ter dito: 'Sou Filho de Deus'? (Jo 10,36), para que o mundo tenha vida em abundancia.

 

“O Espírito não está simplesmente sobre o Messias, mas enche-o, penetra-o, invade-o no seu ser e no seu obrar... Assim o Espírito do Senhor se revela fonte de santidade e apelo à santificação. Este mesmo Espírito do Senhor está sobre a totalidade do povo de Deus, que é constituído como povo consagrado a Deus e por Deus enviado para o anúncio do Evangelho que salva. Os membros do Povo de Deus estão inebriados e assinalados pelo Espírito e chamados à santidade (Pastores dabo vobis 19).

 

A recepção do Espírito implica uma dedicação radical da pessoa do enviado à missão apostólica, para colaborar de modo específico, todo particular, na mesma missão de Cristo.

Santidade e missão aparecem assim intimamente ligadas, pois o Espírito santificador é o protagonista da missão.

 

4. No mundo sem sermos do mundo

 

Jesus orou pelos seus discípulos: “15*Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. 16De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 17*Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. 18Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, 19e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade”(Jo 17,15-19).

 

Esta prece do Senhor oferece-nos um ponto de partida para a espiritualidade do apóstolo na sua condição de discípulo. A identidade e missão do apóstolo estão inseridas na identidade e na missão de quem os envia. Dai surge a necessidade de prestarmos atenção ao modo como Jesus viveu, amou e serviu o mundo que o rejeitava. O apóstolo é enviado para significar e actualizar a missão de Jesus no mundo de hoje, com as suas luzes e as suas sombras, isto é, significar e actualizar o amor de Cristo pelas pessoas concretas deste mundo e deste tempo. Isto tem as suas consequências.

 

Homem entre os homens

 

A solidariedade com as pessoas é o ponto de partida da missão pastoral. O apóstolo está chamado a conviver como irmão entre as pessoas, precisamente para exercer o ministério em seu favor.

As pessoas que o apóstolo deve libertar e apascentar em nome de Cristo encontram-se no mundo. Não se pode fazer uma pastoral à distância. Dai surge a necessidade de de viver uma solidariedade crítica e amorosa com elas (cfr. PO 3).

 

Desta perspectiva, a espiritualidade apostólica deve cultivar a dimensão humana e espiritual do enviado. A vida espiritual se insere na vida plenamente humana e a desenvolve. As ciências humanas podem ajudar, mas elas não têm a última palavra:

GS 41: "Quem segue a Cristo, o Homem perfeito, aperfeiçoa-se cada vez mais na sua própria dignidade de homem".

 

Vasos de argila: poder e fragilidade

 

O homem apostólico está à caminho da sua plenitude em Cristo. Mas não o faz a modo de um "superman". Ele é e continua sendo frágil durante a sua vida e missão. Cristo veio ao mundo na debilidade da carne para nos salvar desde a nossa debilidade. O pastor é chamado a trabalhar como colaborador de Deus desde a sua própria fragilidade. Trata-se de uma condição que nunca deveríamos esquecer.

 

Paulo pediu insistentemente a libertação das sus fragilidades, pois as sentia como obstáculo para levar à frente a sua missão. Mas Ele respondeu-me: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza.» De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. 10Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte “ (2Cor 12,9-10).

 

Encontramo-nos perante uma lei essencial da espiritualidade apostólica: Deus realiza as suas obras com a fragilidade dos homens. Deus é quem liberta do pecado e nos associa à vitoria do Seu Filho:

 

2Cor 2, 14-16: ” 14Mas graças sejam dadas a Deus, que, em Cristo, nos conduz sempre em seu triunfo e, por nosso intermédio, difunde em toda a parte o perfume do seu conhecimento. 15Porque somos para Deus o bom odor de Cristo, para aqueles que se salvam e para aqueles que se perdem: 16para uns, odor da morte que conduz à morte; para outros, odor da vida que conduz à vida. E quem estaria à altura de uma tal missão?”.

2Cor 3,5:5Não é que sejamos capazes de conceber alguma coisa como de nós mesmos; é de Deus que provém a nossa capacidade”.

2Cor 4,7: “7*Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso”.

 

O consagrado/a aprende a caminhar na fragilidade, isto é, na humildade e na verdade, pois reconhece que a sua autoridade e o seu poder são de Deus. Só assim os usará para o fim a que lhe foram entregues, para edificar o povo de Deus:

2Cor 10,8: “8E ainda que eu me gloriasse em excesso do poder que Deus nos deu para a vossa edificação, e não para a vossa ruína, não teria de que me envergonhar”.

2Cor 13,4.10. 4Sim, se foi crucificado na sua fraqueza, agora está vivo pelo poder de Deus. Nós também somos fracos nele, mas viveremos com Ele pelo poder de Deus que actua em vós.
10Por isso, estando ausente, vos escrevo estas coisas, para que, uma vez presente, não tenha de usar de rigor, conforme o poder que o Senhor me deu para edificar e não para destruir”.

 

Viver desde a fragilidade é uma aprendizagem que custa. Supõe uma luta constante contra as tendencias da carne. Ter cuidado de si e da Igreja é permanecermos vigilantes para não nos deixar levar pelas propostas do mundo. Devemos caminhar na acção de graças e na esperança no meio das nossas fragilidades, o Espírito vem em nossa ajuda para fazermos avançar com zelo, audácia e segurança.

 

4. No corpo de Cristo

O missionário/a não se pode pôr por cima da Igreja. Ele forma parte do único corpo de Cristo. Não é o dono da comunidade eclesial, mas sim o seu servidor.

Na última ceia Jesus lembra aos seus apóstolos: “25Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. 26Convosco, não deve ser assim; o que fôr maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve... 27Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,25-27).

Torna-se necessário aprender a situar-se de forma correcta no serviço, que é a maneira de pascentar o rebanho de Cristo.

 

Irmão entre os irmãos

 

Jesus é o primogénito entre muitos irmãos (29Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos.” Rm 8,29). Ele manifestou quem era a sua verdadeira família:”35Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»: (Mc 3,35).

 

A nossa espititualidade deve desenvolver esta dimensão fundamental do ministério apostólico. Na Igreja todos estamos chamados a viver como irmãos porque ha um só Pai e um só é o nosso mestre e salvador, Cristo. O missionário/a deve estar consciente desta verdade no que se refere ao relacionamento com os demais membros do povo de Deus: leigos, presbiteros, religiosos: “*Quanto a vós, não vos deixeis tratar por 'mestres', pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. 9E, na terra, a ninguém chameis 'Pai', porque um só é o vosso 'Pai': aquele que está no Céu. 10Nem permitais que vos tratem por 'doutores', porque um só é o vosso 'Doutor': Cristo. 11*O maior de entre vós será o vosso servo. 12Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado” (Mt 23, 8-12).

 

Paulo VI: "E' necessário que nos tornemos irmãos dos homens para sermos pastores, pais e mestres dos homens", (Ecclesiam Suam 85).

 

Discípulos da Palavra

 

O ministério da Palavra é missão essencial do missionário: tem como primeiro dever anunciar o Evangelho a todos...".

 

Este ministério exige do missionário/a que se torne discípulo da Palavra juntos com os outros membros do Povo de Deus: "Os sacerdotes...embora exerçam o oficio de pais e mestres, também são discípulos do Senhor junto com todos os fiéis" (PO 9).

A espiritualidade missionária deve impulsar na sua vida a paixão pela Palavra viva e operante. Aqui nos encontramos de novo perante a diferença radical entre o cristianismo e as outras religiões. Mentre as religiões em geral partem do homem à procura do absoluto, a fé bíblica parte da palavra que Deus dirige à humanidade. Deus tem a iniciativa.

 

Como ministro da Palavra, o apóstolo lee e escuta diariamente essa mesma palavra que deve ensinar aos seus irmãos. (Cfr. PO 13).

 

 

Textos para a oração

1 Tess. 4,3.

Ef. 1,4-5.

1Pe 1,14-22.

1 Cor 1,2.9.

1 Cor. 7, 32-34.

Lumen Gentium 39; 40,41,42.

.

Ad Gentes 23: A vocação missionária; 24: a espititualidade missionária.

Redemptoris Missio 90: O verdadeiro missionário é o santo

Perfectae Caritatis 5: Exigências fundamentais da vocação religiosa.



CHAMADA UNIVERSAL À SANTIDADE


Leitura: 1 Pe 1,14-19:

.

14Como filhos obedientes, não vos conformeis com os antigos desejos do tempo da vossa ignorância; 15*mas, assim como é santo aquele que vos chamou, sede santos, vós também, em todo o vosso proceder, 16conforme diz a Escritura:Sede santos, porque Eu sou santo”. 17*E, se invocais como Pai aquele que, sem parcialidade, julga cada um consoante as suas obras, comportai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação; 18*sabendo que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver herdada dos vossos pais, não a preço de bens corruptíveis, prata ou ouro, 19mas pelo sangue precioso de Cristo, qual cordeiro sem defeito nem mancha”.


I. Chamada universal



1.Sede santos porque Eu sou santo



O Concílio Vaticano II despertou a consciência da chamada universal à santidade: “Todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1 Tess. 4,3; cfr. Ef. 1,4)” (LG 39). “É, pois, claro a todos, que os cristãos de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG 40).

Esta vocação radica-se no Baptismo. Na Igreja santa todos os baptizados estão inseridos na humanidade santa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. A chamada à santidade não está reservada a uma elite. Todos os fiéis de qualquer estado ou condição são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade (LG 40).



O Espírito revela-nos e nos comunica a vocação fundamental que o Pai desde a eternidade dirige a todos: a vocação a ser "santos e imaculados na sua presença na caridade", em virtude da predestinação para "sermos seus filhos adoptivos por obra de Jesus Cristo" (Ef 1, 4-5) (PDV 19).



O apóstolo Paulo recorda-nos que a essência da vida cristã é a vida animada e guiada pelo Espírito em ordem à santidade e à perfeição da caridade: “Se vivermos do Espírito, caminhemos segundo o Espírito” (Gal 5,25).



2. Unidade na diversidade.



Diversos caminhos de santidade, segundo a graça recebida.



Espírito distribui livremente os seus dons para a edificação do corpo do Ressuscitado. A santidade cultiva-se no facto de fazer frutificar os talentos recebidos. Pelo que a vocação universal à santidade se estrutura em cada um segundo a graça recebida para a edificação da Igreja. A Igreja não é um corpo igualitário, uma associação social, politica, cultural esportiva... A Igreja é um mistério de comunhão e missão; pelo que este dinamismo deve penetrar as diferentes vocações e carismas:

Nos vários géneros e ocupações da vida, é sempre a mesma a santidade que é cultivada por aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus ... Cada um, segundo os próprios dons e funções, deve progredir sem desfalecimentos pelo caminho da fé viva, que estimula a esperança e que actua pela caridade“(LG 41).

A exemplo do Deus Trino e Único, a comunhão eclesial exige intrinsecamente a diversidade de pessoas e funções em ordem à missão da Igreja; e, ao mesmo tempo, exige a unidade das diferencias pessoais. Cada pessoa contribui de modo especifico à obra comum. A igualdade de pessoas não significa uniformidade igualitária, mas sim unidade no ser e no agir, segundo a graça, a vocação e a missão recebidas.



II. Traços da caminhada apostólica à santidade



1.Consagração e evangelização

A afirmação do Concílio de chamada universal à santidade, encontra particular aplicação no nosso caso de consagrados ao sacerdócio ministerial, onde consagração e missão encontram-se intrinsecamente unidas:

A universal vocação à santidade está estritamente ligada à universal vocação à missão: todo o fiel é chamado à santidade e à missão. Este foi o voto ardente do Concílio ao desejar, « com a luz de Cristo reflectida no rosto da Igreja, iluminar todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura ».A espiritualidade missionária da Igreja é um caminho orientado para a santidade” (RM 90).



A espiritualidade do clero diocesano caracteriza-se, além disso, pela caridade apostólica



Antes de mais nada torna-se necessário afirmar claramente que o pastor, o sacerdote, portador do ministério do Espírito e da justiça vive a vocação universal à santidade através do exercício deste ministério de vida e de liberdade

O presbítero desenvolve a sua vocação, no meio da Igreja santa, através do cultivo da graça que lhe foi conferida. A identidade e a missão do presbítero exige uma maneira especifica de viver e agir na historia. Pelo que torna-se necessário e conveniente pensar numa espiritualidade adequada ao seu ser.



2. Dom do Espírito à Igreja



'E necessário ter renovada consciência de que o sacerdócio ministerial é um dom do Espírito à Igreja, para não cair na óptica de pensar o ministério desde caminhos da sociologia ou simplesmente do funcionalismo das instituições eclesiais. Paulo o lembra várias vezes aos seus colaboradores e às primeiras comunidades.

2Cor 5,18: ” 18*Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação”.



Act 20, 28: “28*Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue”.





A consciência de ser dom de Deus para a Igreja, dá à avida espiritual do missionário um dinamismo todo particular. Ele deve produzir frutos de justiça e do Espírito na sua acção pastoral.

Jesus viu e recebeu os seus discípulos como dom do Pai. Chamou-os e cuidou deles como um verdadeiro dom:

Jo 17,6: “6Dei-te a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos entregaste e têm guardado a tua palavra”.



Ao aceitar pertencer de modo incondicional a Cristo, o Filho, o discípulo consente caminhar pela via do amor e do serviço ao mundo:

Jo 17, 11. 16-18: “ 11*Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti. Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos!16De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo.
17*Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. 18Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo”.



A consagração do discípulo ao Cristo, Paulo expressa-a em termos de serviço. Ele apresenta-se como o servo de Cristo Jesus: “1*Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus” (Rm 1,1). E por isso mesmo, servo da comunidade: “5Pois, não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus” (2Cor 4,5).



Ter cura de si próprio é cultivar a união com Cristo servidor, que deu a vida para reunir os filhos dispersos, e só se pode realizar reunindo e servindo a comunidade. O missionário une-se e configura-se com Jesus no serviço.



As consequências destas afirmações para o desenvolvimento de una espiritualidade missionária são enormes.

Ninguém pode reivindicar como seu o ministério, pois é o Pai que livremente entrega os discípulos a seu Filho: “ 4*E ninguém tome esta honra para si mesmo, mas somente quem é chamado por Deus, tal como Aarão” (Hbr 5,4).



O Espírito poe o apóstolos como servidores vigilantes do seu povo que "peregrina entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, anunciando a cruz do Senhor até ao seu retorno"

(LG 8).



Para levar a bom termo o serviço de "vigilância apostólica", apóstolo deixará ao lado os próprios interesses, dando prioridade aos interesses da comunidade. A consciência de ser dom de Deus para o seu povo, conduzi-lo-à ao despojamento, à pobreza, à gratuidade: “ *Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9).





3. No espírito do pastor messiânico





O apóstolo não seria coerente se ele não tratara de unir-se e identificar-se com Cristo. O poder de agir em nome de Cristo é fonte de uma radicalidade evangélica. Esta dimensão

da nossa vida não a podemos confundir com a lógica do poder social e humano nem muito menos com o autoritarismo.



O Espírito transforma o ser e o agir do apóstolo para que continue a ser o principio de vida do seu povo. O apóstolo recebe a missão de ser um signo eficaz da presença imediata de Cristo. Ele, por tanto, deve viver de tal maneira que seja transparência de Cristo.



O apostolo é consciente de que Cristo o salvou. Dai surge nele a gratidão para quem o amou, se entregou por ele e considerou-o digno de confiança ao chama-lo ao ministério.



A acção do Espírito consagra quem foi chamado como signo e instrumento da acção salvífica e santificadora de Cristo. A espiritualidade apostólica deve ter conta esta realidade. Não é algo superficial ou secundário na sua personalidade. O ministro do Evangelho é testemunha e servidor na sua totalidade. A sua identidade não pode ficar reduzida a umas funções e relações, embora deva expressar-se através delas.



Enviados no Espírito do Messias



O chamado à missão recebe o Espírito para uma nova tarefa na Igreja e no mundo e uma nova configuração interior para a a missão que lhe foi confiada, que tem as sus raízes no Baptismo e na Confirmação.



O Espírito penetra toda a humanidade de quem é chamado, como em Jesus: 18*«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres;enviou-me
a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista;a mandar em liberdade os oprimidos" (Lc 4,18).Como Jesus que foi consagrado e enviado ao mundo: “36a mim, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: 'Tu blasfemas', por Eu ter dito: 'Sou Filho de Deus'? (Jo 10,36), para que o mundo tenha vida em abundancia.



“O Espírito não está simplesmente sobre o Messias, mas enche-o, penetra-o, invade-o no seu ser e no seu obrar... Assim o Espírito do Senhor se revela fonte de santidade e apelo à santificação. Este mesmo Espírito do Senhor está sobre a totalidade do povo de Deus, que é constituído como povo consagrado a Deus e por Deus enviado para o anúncio do Evangelho que salva. Os membros do Povo de Deus estão inebriados e assinalados pelo Espírito e chamados à santidade (Pastores dabo vobis 19).



A recepção do Espírito implica uma dedicação radical da pessoa do enviado à missão apostólica, para colaborar de modo específico, todo particular, na mesma missão de Cristo.

Santidade e missão aparecem assim intimamente ligadas, pois o Espírito santificador é o protagonista da missão.



4. No mundo sem sermos do mundo



Jesus orou pelos seus discípulos: “15*Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. 16De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 17*Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. 18Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, 19e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade”(Jo 17,15-19).



Esta prece do Senhor oferece-nos um ponto de partida para a espiritualidade do apóstolo na sua condição de discípulo. A identidade e missão do apóstolo estão inseridas na identidade e na missão de quem os envia. Dai surge a necessidade de prestarmos atenção ao modo como Jesus viveu, amou e serviu o mundo que o rejeitava. O apóstolo é enviado para significar e actualizar a missão de Jesus no mundo de hoje, com as suas luzes e as suas sombras, isto é, significar e actualizar o amor de Cristo pelas pessoas concretas deste mundo e deste tempo. Isto tem as suas consequências.



Homem entre os homens



A solidariedade com as pessoas é o ponto de partida da missão pastoral. O apóstolo está chamado a conviver como irmão entre as pessoas, precisamente para exercer o ministério em seu favor.

As pessoas que o apóstolo deve libertar e apascentar em nome de Cristo encontram-se no mundo. Não se pode fazer uma pastoral à distância. Dai surge a necessidade de de viver uma solidariedade crítica e amorosa com elas (cfr. PO 3).



Desta perspectiva, a espiritualidade apostólica deve cultivar a dimensão humana e espiritual do enviado. A vida espiritual se insere na vida plenamente humana e a desenvolve. As ciências humanas podem ajudar, mas elas não têm a última palavra:

GS 41: "Quem segue a Cristo, o Homem perfeito, aperfeiçoa-se cada vez mais na sua própria dignidade de homem".



Vasos de argila: poder e fragilidade



O homem apostólico está à caminho da sua plenitude em Cristo. Mas não o faz a modo de um "superman". Ele é e continua sendo frágil durante a sua vida e missão. Cristo veio ao mundo na debilidade da carne para nos salvar desde a nossa debilidade. O pastor é chamado a trabalhar como colaborador de Deus desde a sua própria fragilidade. Trata-se de uma condição que nunca deveríamos esquecer.



Paulo pediu insistentemente a libertação das sus fragilidades, pois as sentia como obstáculo para levar à frente a sua missão. Mas Ele respondeu-me: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza.» De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. 10Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte “ (2Cor 12,9-10).



Encontramo-nos perante uma lei essencial da espiritualidade apostólica: Deus realiza as suas obras com a fragilidade dos homens. Deus é quem liberta do pecado e nos associa à vitoria do Seu Filho:



2Cor 2, 14-16: ” 14Mas graças sejam dadas a Deus, que, em Cristo, nos conduz sempre em seu triunfo e, por nosso intermédio, difunde em toda a parte o perfume do seu conhecimento. 15Porque somos para Deus o bom odor de Cristo, para aqueles que se salvam e para aqueles que se perdem: 16para uns, odor da morte que conduz à morte; para outros, odor da vida que conduz à vida. E quem estaria à altura de uma tal missão?”.

2Cor 3,5: “5Não é que sejamos capazes de conceber alguma coisa como de nós mesmos; é de Deus que provém a nossa capacidade”.

2Cor 4,7: “7*Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso”.

 

O consagrado/a aprende a caminhar na fragilidade, isto é, na humildade e na verdade, pois reconhece que a sua autoridade e o seu poder são de Deus. Só assim os usará para o fim a que lhe foram entregues, para edificar o povo de Deus:

2Cor 10,8: “8E ainda que eu me gloriasse em excesso do poder que Deus nos deu para a vossa edificação, e não para a vossa ruína, não teria de que me envergonhar”.

2Cor 13,4.10. 4Sim, se foi crucificado na sua fraqueza, agora está vivo pelo poder de Deus. Nós também somos fracos nele, mas viveremos com Ele pelo poder de Deus que actua em vós.
10Por isso, estando ausente, vos escrevo estas coisas, para que, uma vez presente, não tenha de usar de rigor, conforme o poder que o Senhor me deu para edificar e não para destruir”.



Viver desde a fragilidade é uma aprendizagem que custa. Supõe uma luta constante contra as tendencias da carne. Ter cuidado de si e da Igreja é permanecermos vigilantes para não nos deixar levar pelas propostas do mundo. Devemos caminhar na acção de graças e na esperança no meio das nossas fragilidades, o Espírito vem em nossa ajuda para fazermos avançar com zelo, audácia e segurança.



4. No corpo de Cristo

O missionário/a não se pode pôr por cima da Igreja. Ele forma parte do único corpo de Cristo. Não é o dono da comunidade eclesial, mas sim o seu servidor.

Na última ceia Jesus lembra aos seus apóstolos: “25Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. 26Convosco, não deve ser assim; o que fôr maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve... 27Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,25-27).

Torna-se necessário aprender a situar-se de forma correcta no serviço, que é a maneira de pascentar o rebanho de Cristo.



Irmão entre os irmãos



Jesus é o primogénito entre muitos irmãos (29Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos.” Rm 8,29). Ele manifestou quem era a sua verdadeira família:”35Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»: (Mc 3,35).



A nossa espititualidade deve desenvolver esta dimensão fundamental do ministério apostólico. Na Igreja todos estamos chamados a viver como irmãos porque ha um só Pai e um só é o nosso mestre e salvador, Cristo. O missionário/a deve estar consciente desta verdade no que se refere ao relacionamento com os demais membros do povo de Deus: leigos, presbiteros, religiosos: “*Quanto a vós, não vos deixeis tratar por 'mestres', pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. 9E, na terra, a ninguém chameis 'Pai', porque um só é o vosso 'Pai': aquele que está no Céu. 10Nem permitais que vos tratem por 'doutores', porque um só é o vosso 'Doutor': Cristo. 11*O maior de entre vós será o vosso servo. 12Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado” (Mt 23, 8-12).



Paulo VI: "E' necessário que nos tornemos irmãos dos homens para sermos pastores, pais e mestres dos homens", (Ecclesiam Suam 85).



Discípulos da Palavra



O ministério da Palavra é missão essencial do missionário: tem como primeiro dever anunciar o Evangelho a todos...".



Este ministério exige do missionário/a que se torne discípulo da Palavra juntos com os outros membros do Povo de Deus: "Os sacerdotes...embora exerçam o oficio de pais e mestres, também são discípulos do Senhor junto com todos os fiéis" (PO 9).

A espiritualidade missionária deve impulsar na sua vida a paixão pela Palavra viva e operante. Aqui nos encontramos de novo perante a diferença radical entre o cristianismo e as outras religiões. Mentre as religiões em geral partem do homem à procura do absoluto, a fé bíblica parte da palavra que Deus dirige à humanidade. Deus tem a iniciativa.



Como ministro da Palavra, o apóstolo lee e escuta diariamente essa mesma palavra que deve ensinar aos seus irmãos. (Cfr. PO 13).

 



Textos para a oração

1 Tess. 4,3.

Ef. 1,4-5.

1Pe 1,14-22.

1 Cor 1,2.9.

1 Cor. 7, 32-34.

Lumen Gentium 39; 40,41,42.

.

Ad Gentes 23: A vocação missionária; 24: a espititualidade missionária.

Redemptoris Missio 90: O verdadeiro missionário é o santo

Perfectae Caritatis 5: Exigências fundamentais da vocação religiosa.

Last modified on Thursday, 05 February 2015 16:56

Gli ultimi articoli

Missionari laici della Consolata in Venezuela

16-07-2024 Missione Oggi

Missionari laici della Consolata in Venezuela

Prima di tutto vogliamo essere grati a Dio, alla Chiesa e ai Missionari della Consolata; la gratitudine è la nostra...

Mozambico. Non è mediatica, ma è una guerra

16-07-2024 Notizie

Mozambico. Non è mediatica, ma è una guerra

Una regione del Paese africano alla mercé della guerriglia islamista C’era ottimismo a Maputo, la capitale mozambicana. La guerriglia a Cabo...

Giustizia Riparativa e la “pedagogia allamana”

15-07-2024 Missione Oggi

Giustizia Riparativa e la “pedagogia allamana”

La Corte di Giustizia dello Stato del Paraná (Brasile) ha tenuto dal 3 al 5 luglio l'incontro sulla Giustizia Riparativa...

Perù: prima assemblea dei popoli nativi

14-07-2024 Missione Oggi

Perù: prima assemblea dei popoli nativi

I rappresentanti dei popoli nativi dell'Amazzonia peruviana, insieme ai missionari, si sono riuniti nella Prima Assemblea dei Popoli Nativi, che...

Padre James Lengarin festeggia 25 anni di sacerdozio

13-07-2024 Notizie

Padre James Lengarin festeggia 25 anni di sacerdozio

La comunità di Casa Generalizia a Roma festeggerà, il 18 luglio 2024, il 25° anniversario di ordinazione sacerdotale di padre...

Nei panni di Padre Giuseppe Allamano

13-07-2024 Allamano sarà Santo

Nei panni di Padre Giuseppe Allamano

L'11 maggio 1925 padre Giuseppe Allamano scrisse una lettera ai suoi missionari che erano sparsi in diverse missioni. A quel...

Un pellegrinaggio nel cuore del Beato Giuseppe Allamano

11-07-2024 Allamano sarà Santo

Un pellegrinaggio nel cuore del Beato Giuseppe Allamano

In una edizione speciale interamente dedicata alla figura di Giuseppe Allamano, la rivista “Dimensión Misionera” curata della Regione Colombia, esplora...

XV Domenica del TO / B - “Gesù chiamò a sé i Dodici e prese a mandarli a due a due"

10-07-2024 Domenica Missionaria

XV Domenica del TO / B - “Gesù chiamò a sé i Dodici e prese a mandarli a due a due"

Am 7, 12-15; Sal 84; Ef 1, 3-14; Mc 6, 7-13 La prima Lettura e il Vangelo sottolineano che la chiamata...

"Camminatori di consolazione e di speranza"

10-07-2024 I missionari dicono

"Camminatori di consolazione e di speranza"

I missionari della Consolata che operano in Venezuela si sono radunati per la loro IX Conferenza con il motto "Camminatori...

onlus

onlus

consolata news 2

 

Contatto

  • Viale Mura Aurelie, 11-13, Roma, Italia
  • +39 06 393 821