{mosimage} Vem tudo isto a propósito de que hoje tivemos a festa de Natal, com almoço, para as pessoas infectadas com HIV-SIDA de Osizweni. O acontecimento foi organizado pelo grupo Cuidados Domésticos (CD) – Home Based Care. É um grupo de pessoas que teve início e é apoiado pela Igreja Católica de Osizweni mas ao qual pertencem pessoas de várias denominações religiosas. São voluntários e têm como tarefa prestar apoio domiciliar aos seropositivos: cuidar da higiene dos doentes e, frequentemente, também da habitação; dado que os infectados estão no programa ARV (Anti RetroVirais) há que zelar para que tomem os medicamentos segundo os critérios do médico e apoiá-los para a visita (semanal) ao médico.
É um serviço frequentemente escondido e há que ter força interior para continuar dado o défice de vida dos doentes. Para poderem ser eficazes no seu serviço, os membros do grupo CD recebem formação inicial (antes do início do seu serviço de voluntariado) e formação periódica. Parte central da formação dos membros do grupo CD é a dimensão religiosa, e os membros católicos são muito activos dentro da comunidade.
Antes do almoço houve uma sessão que começou com um serviço religioso de cura e bênção, seguido de várias intervenções de pessoas especializadas no apoio a seropositivos e no combate ás causas da pandemia da sida. A assembleia, mais de cem pessoas, era constituída pelos doentes e pelos membros do grupo CD, aos quais poderemos chamar de “cuidadores” dado o seu serviço de cuidar dos doentes. Algo que fazia doer tremendamente o coração era a presença de trinta e seis crianças – órfãs e muitas delas infectadas pelo nascimento. Veio-me à mente a frase do poeta: “Mas, Senhor, porquê as crianças”? E a única resposta de que sou capaz é… o uso que fazemos da liberdade cria estas situações. Um dos intervenientes partilhou com a assembleia as conclusões de um relatório recentemente publicado: se não houver mudança nos comportamentos, dentro de nove anos a esperança média de vida para as pessoas deste país será de… 51 anos (49 anos para os homens e 53 para as mulheres). Se for verdade é trágico. Mas pode mesmo vir a ser verdade, e nós padres tocamos semanalmente com mão essa realidade dramática e final: depois de amanhã temos o funeral de uma mulher de apenas 53 anos.
Entre as palavras de cada interveniente havia cânticos e – paradoxalmente – muita, muita alegria! Um homem seropositivo foi o interveniente mais aplaudido: “nós os seropositivos estamos vivos graças ao trabalho dos nossos “cuidadores” – viva a vida!”