Incertezas, fome e miséria foram suas companheiras, nos primeiros anos de infância. Perdeu a mãe quando tinha apenas quatro anos, vítima de bronco-pneumonia fulminante. A experiência do pós-guerra e a vida dura das montanhas imprimiram nele um caráter forte e corajoso. Bem cedo, ainda na adolescência, começou a sentir que a vida missionária era do seu feitio. Para se certificar, entrou no Seminário da Consolata, de Rovereto. Ali, sentiu-se bem. Foi acolhendo a graça que trabalhava no seu coração e foi dando a sua resposta positiva. Mesmo que isso lhe custasse dificuldades que são inerentes à escolha que fizera. Foi avançando. Em 1973, ordenou-se sacerdote, na igreja paroquial de sua terra natal, em Sporminore. Após alguns anos de aprendizado para a Missão, na Itália, foi enviado à Colômbia, precisamente em Cartagena Del Chairà, no Caquetà, região sul do país.
Encontro com a Missão
Ele jamais esquecerá dos 45 dias de viagem num navio cargueiro! Mas, enfim, estava chegando à tão sonhada Missão. Aquela era agora, a sua terra de adoção. Não perdeu tempo. Começou a estudá-la e a percorrê-la em todas as direções, para conhecer e entender melhor o povo que ali habitava. Começou a confrontar a realidade com tudo o que havia lido sobre a história do lugar e sobre a Teologia da Libertação, tão propagada na época. São palavras dele: “sobre esse assunto, eu li toda a Carta de Nicarágua e de El Salvador. Eu era jovem e estava chegando cheio de entusiasmo missionário e não nego, também um pouco de espírito revolucionário. Eu estava convencido, que lutar ao lado dos pobres, para ajudá-los a vencer a pobreza e a miséria, era a melhor maneira de testemunhar o Evangelho; e se o fizesse, estaria co- dividindo com aquele povo sofrido a beleza dos valores cristãos e evangélicos. Aos poucos fui entendendo que, infelizmente, a coisa ali não era bem assim. A guerrilha era forte e não respeitava nenhum desses valores; a vida, não valia mesmo nada. O quê e como fazer? Todos os livros que eu tinha lido para me preparar, não me preveniram sobre o que eu encontrei no Caquetà: coca e guerra. O primeiro grande dissabor que me atingiu, em meio à grande tensão que assolava a região, foi ver dois dos meus catequistas fuzilados pelo comando das FARCS (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Um segundo, veio do Exército colombiano, poucos meses depois. De repente, um helicóptero despejou, bem no centro da praça principal, os corpos de três guerrilheiros, capturados e enforcados numa Operação Militar. Aquilo me atingiu profundamente. Fui ter com as autoridades e pedi que me cedessem os corpos; porém o Exército agiu mais rápido e na manhã seguinte eles haviam desaparecido. Apenas me deixaram um recado: aqueles homens eram bandidos e não mereciam uma sepultura. Como não reagir? Começamos a procurá-los na vizinhança, embrenhando-nos nos terrenos cultivados. No terceiro dia de intensa busca, os corpos foram encontrados, perto de um pequeno aeroporto desativado”.
Ter que recomeçar
Por motivos de saúde, padre Jacinto teve que passar um período na Itália. Ao regressar, cinco anos depois, a situação da guerrilha havia piorado em toda a Colômbia. Remolino, onde ele seria o pároco, havia se transformado num verdadeiro caos. A vila tinha sido elevada à capital do Caguan, administrada pelos guerrilheiros, fundada sobre o comércio da droga. Padre Jacinto não desanimou; foi à luta, começando tudo de novo. Era urgente defender e promover a vida daqueles camponeses, que não sabiam mais a quem apelar. Ele não hesitou em lançar um desafio, arriscado e que beirava aos limites da utopia. Apresentou o projeto, condensado neste slogan: “não à coca, sim ao cacau”. Em resumo, era todo um trabalho de conscientização para convencer os camponeses a trocar o cultivo da coca por outras plantações alternativas, cujos produtos seriam assegurados por uma cooperativa, garantindo a subsistência das famílias. Não foi fácil. Quem iria deixar o certo pelo duvidoso? Após um árduo trabalho de base, quase todo corpo-a-corpo, começaram as primeiras adesões. Mais de cem famílias assumiram o projeto. Foi fundada, então, a ASOPROBACA - Associação dos Produtores do Baixo Caguan. Ela recebia o produto, beneficiava e vendia o chocolate, que começou a ser muito apreciado. Por esta invenção – a fábrica de chocolate – padre Jacinto recebeu, em 2004, o Prêmio Nacional da Paz.
Outras iniciativas
Padre Jacinto ainda não se deu por satisfeito. Segundo ele, estava faltando ainda muita coisa para proporcionar aos plantadores de cacau um pouco mais de respiro. Iniciou a construção de uma modesta fábrica de marmelada, aproveitando assim os frutos da floresta. E com a utilização do micro-crédito, deu às famílias a possibilidade de adquirir algumas cabeças de gado, Também, brevemente, uma escola abrirá as portas a 60 jovens, que poderão fazer o ensino superior, sem ter que sair do lugar. E tem mais: apesar dos seus quase 64 anos, continua na luta. Remolino precisa de água potável. É o projeto que está em andamento, com a finalidade de garantir a estabilidade ao povo, pois sem água, muitos precisam se deslocar.
A tarefa do missionário é trabalhar para que “os povos tenham vida e vida em abundância” (Jo, 10,10), como fez Jesus. Assim, através desses projetos e de toda essa luta, apoiado por todos aqueles que acreditam nos milagres da Missão, padre Jacinto é o missionário da consolação para esse povo, que aos poucos, vai descobrindo a sua dignidade de filhos e filhas de Deus.
Artigo publicado em outubro de 2006 no Jornal “Il Trentino”.
Publicado na edição Nº03 - Abril 2007 - Revista Missões.