Ele está contra o sistema de retribuição que garante vida e prosperidade individual. Porem a teologia da retribuição que garante prosperidade e segurança pessoal está contra a justiça que Javé garante para o seu povo e não garantem nenhuma vida para os pobres de Deus. Ele coloca um desafio para o povo em que nestes salmos até aqueles que são justos segundo a lei de retribuição está sofrendo. Isso é uma contradição segundo essa teoria. Por isso o povo grita e clama em protesto desta situação.
Então eles mostram a situação no qual o povo reclama por causa de contradições que existe entre a vida real que está vivendo o povo e a teologia da retribuição que afirma que Deus garante riqueza, vida longa e descendência aqueles que são justos e sofrimentos para os injustos. O ímpio será destruído enquanto os retos prosperam. Apesar desta crença, a experiência cotidiana do povo mostra outra realidade. Ao contrario, os justos continua sofrendo enquanto os justos sofrem. O deus da sua tradição que garante igualdade a toda comunidade, não está mais. A fraternidade que é a fonte da felicidade não existe mais.
Segundo as suas leis tradicionais a lei é que defende a comunidade sobre tudo os fracos, mas não oprime. Segundo essas leis tribais, seguir a lei é com certeza buscar a felicidade. Por isso é feliz quem teme Deus e segue os seus mandamentos que são a favor da vida. Este tipo de homem será abençoado e terá abundância e riqueza porque ele partilha com os necessitados. É a lei que ilumina a vida do justo.
Então, quando o povo chega ao exílio esta visão pouco a pouco começa a mudar. O povo toma um conceito individualista e a salvação coletiva pelo meio da lei não existe mais. Com o livro de Esdras isso fica muito claro. Ele se preocupa organizar o povo ao redor da religião, mas só para justificar o sistema da retribuição. Então a lei de Deus passa a ser a lei do rei. Os dízimos, as ofertas, os primogênitos e as primícias são transformados em tributo obrigatório a ser entregue aos levitas no templo. Novos rituais são acrescentados como a oblação, sacrifício pelos pecados e o sacrifício de reparação. A finalidade é entregar tudo isso ao sacerdote que por sua vez paga tributo ao império persa.
A interpretação da lei e escrituras passa a controlar a vida do povo em todas as dimensões. Quem sofre é porque é impuro e quem prospera é porque está puro. Para se purificar tem que entregar ofertas ao sacerdote. Colocam leis sobre este teoria de puros e impuros muito difíceis especialmente para as mulheres que quase estavam sempre com divida para com Deus e para com os mais fortes entre eles. A lei que foi sempre contada e passada entre gerações passa sendo escrita e codificada em livros. Quem pratica esta lei é considerado sábio e inteligente aos olhos dos povos. Então como está teologia não se sustenta na vida real, não pode se sustentar mais.
O salmo 37 nos leva a uma critica desta situação. Ele mostra que só Yahweh fará triunfar a justiça e o direito. Ele apresenta um confronto entre dois grupos, os que são considerados retos, justos segundo a teologia da retribuição e os que esperam em Yahweh. Ele mostra que a pessoa justa é aquela que é fiel à aliança e que procura a preservar a paz e a prosperidade da comunidade sendo fiel aos mandamentos de Deus a respeito do próximo. O ímpio aqui não é aquele que sofre ou não cumpre a lei, mas aquele que está à disposta a tudo que está contra a vida. Neste caso Deus toma partido dos pobres aquele que partilha com os outros. Quem é contra o pobre é considerado contra Deus e Deus o destruirá. Está é a sabedoria judaica, do justo que não é especulativa nem legalista, mas especialmente prática.
Toda essa realidade tem como raiz situação política da época. O povo que volta do exílio na primeira metade do século V a. C começa a revoltar querendo a sua liberdade política e religiosa. Para combater esta situação o império persa coloca novas leis que entrega nas mãos dos sacerdotes. Então tudo passa pela religião em nome de Yahweh, mas no fundo no fundo é uma questão de controle política e opressão pela tributação que vem em roupas de sacrifícios a Deus. A grande maioria sendo de pessoas pobres, estrangeiras, mulheres, crianças doentes e velhos não tem condições de cumprir com as exigências da lei. Então este povo está totalmente excluído na vida religiosa, política e econômica. Acontece que os que cumprem também sofrem e vivem na miséria. Os ímpios roubam, matam e nada acontece com eles. Então a teologia oficial traga a miséria e a morte de muitas pessoas. Isso leva o povo num grito de protesto.
Este grito de mulheres, crianças, estrangeiro não é coisa do passado. Hoje no Brasil há muitas pessoas gritando, sofrendo e correndo risco da vida. Há 53 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. O contraste, só 1% da população que vive uma vida rica. Podemos imaginar como é dolorosa a vida dos pobres no Brasil hoje, a pessoa que não tem nada para comer nem beber enquanto isso o mensalão mostra claramente a situação no qual o rico vive. Já existem muitos movimentos que luta contra esta situação, mas é preciso mobilizar as pessoas para continuar lutando cada vez mais para os seus direitos e a sua dignidade humana.