9 Tema - A corrente do Golfo

Pubblicato in Missione Oggi


Padre Lorenzo Sales, no famoso capítulo XXIII da biografia do Allamano, escreve: “Se o afeto filial não nos engana, parece-nos que, se a vida de Allamano pudesse ser reduzida a uma palpitação e a essa palpitação devêssemos dar um nome, este seria CONSOLATA...” Não há exagero, portanto, em afirmar que o Cônego Allamano vivia “para a sua Consolata”. Mas, o que transmitiu ele aos seus filhos, a partir daquela intimidade de olhares, daquela sintonia espiritual com a Consolata?

Padre Cândido Bona, na comemoração de 16 de fevereiro de 1915, em Bevera, faz a seguinte observação: “Não conheci pessoalmente o Allamano, mas confesso que, as cerca de vinte fotografias que dele possuímos, estáticas e amarelecidas, me deixam antes despoetizado; o mesmo digo de muitos de seus quadros... Dentre elas, escolho três; e se fosse pintor, quisera sintetizar o Fundador num único retrato. A primeira, no-lo apresenta jovem sacerdote; é uma foto que remonta aos anos 80, quando assumiu o cargo de Reitor do Santuário da Consolata. Mostra um Allamano jovem, pacato, um tanto sério, cônscio da tarefa que o espera... A segunda foto, já clássica, nos faz ver Allamano em seu escritório na Vila de Rívoli: revela força, decisão, vontade... Finalmente, o semblante luminoso e paterno da foto do jubileu de ouro de sua vida sacerdotal: nesta, o Fundador transpira confiança serena, bondade, sorriso.”

Daquela intimidade com a sua “querida Consolata”, Allamano não nos transmite apenas o seu estilo de ser, de comportamento; torna-nos também herdeiros de um método de formação e de evangelização: a firmeza temperada pela doçura, pela mansidão. O Cônego Soldati era chamado “o espantalho e o terror dos pobres seminaristas”; mantinha a disciplina à maneira “quase militar”, embora no fundo fosse boa pessoa e amasse os seminaristas. Allamano, ao assumir o cargo de padre espiritual – naquele tempo esta tarefa contemplava também a disciplina – obedeceu em tudo às disposições do seu superior direto, menos numa coisa, a saber, sobre o modo de tratar os clérigos.

“O Cônego Soldati queria que se agisse com severidade; Allamano, ao invés, queria obter o mesmo resultado com a doçura e a mansidão”. Não se tratava de insubordinação, mas de método, ao qual Allamano não se sentia de renunciar. “A discussão se arrastou por longo tempo – é o próprio Allamano que o diz – até que o Cônego Soldati parou, fitou-me com seus olhos severos e disse-me: ‘Já me haviam prevenido que eu não teria conseguido dobrar-te!’” Allamano, com as lágrimas nos olhos, lhe havia suplicado que o deixasse fazer esta prova... E o resultado da prova foi positivo cem por cento.

27 de novembro de 1903: Allamano escreve uma carta circular aos seus missionários que há pouco mais de um ano desenvolvem seu apostolado na África. Qual o motivo da carta? Entre os missionários havia também um carpinteiro assalariado. Este indivíduo, como tam-bém um que outro missionário, perdiam freqüentemente a paciência com os negros, que não compreendiam ou fingiam não compreender e, vez por outra, saía também um tapa...

Avisado do que acontecia, Allamano intervém e propõe aos missionários quatro virtudes, que considera “indispensáveis ao verdadeiro missionário”, e denuncia o comportamento de impaciência que alguns haviam adotado: “... Neste ponto, deixai que vos confesse uma coisa: senti profunda dor ao considerar que, mais de uma vez, não se tratou com entranhas de caridade esses pobrezinhos, e que, por vezes, alguns missionários os trataram com impaciência, ao ponto de erguer a mão e bater neles. Confesso-vos que fiquei profundamente triste e senti um pesar inexprimível...” E Allamano impôs, “em virtude de santa obediência” (foi a única vez que o fez), que se abandonassem tais sistemas. Allamano sempre recordou durante sua vida estes tristes acontecimentos, e para que nunca mais se repetissem, dirá freqüentemente aos seus missionários que o verdadeiro método do missionário tem por base a MANSIDÃO. Numa conferência de 10 de janeiro de 1915 formulou este princípio fundamental de toda metodologia missionária: “A experiência mostra que os nossos missionários realizam tanto maior bem quanto mais mansidão sabem usar” (Conf. II, pp.159-164).

O Cônego Tiago Camisassa, no dia 14 de novembro de 1911, escreveu uma carta ao Allamano, convidando o senhor Reitor e ser mais reservado com os clérigos missionários de Casa Mãe, pois acontecia que, alguns, ao chegarem às missões da África, se aproveitavam... Allamano, com os jovens missionários e seus parentes, comportava-se como um “pai”, confidencialmente, com simplicidade, eliminando distâncias. Não podia, nem tencionava fechar-se numa torre de marfim, só pelo fato de supor que uma ou outra cabeça pequena pudesse abusar da sua confiança. Por isso, a recomendação do Camisassa não encontrou resposta.

Foi durante a guerra – tempo marcado por duras provações e sofrimentos – que Allamano se sentiu realmente Reitor do Santuário da Consolata. Disse: “De toda a parte chegam ao Santuário mães e esposas de soldados. Como Reitor, sinto pesar nos meus ombros os gemidos, as angústias e orações destas pobres criaturas. Certas pessoas se recomendam a mim, como se pudesse resolver tudo, mas eu só posso fazer o que os apóstolos fizeram” (Conf. do dia 23 de dezembro de 1915, vol. II, pp. 454-455).

Allamano, na qualidade de Reitor do Santuário e do Instituto de Pastoral (Convitto Ecclesiastico), tem um merecimento muito grande, completamente desconhecido, mas que, por sua relevância, pode ser comparado ao merecimento de fundador. Passo a dar um título àquilo que Allamano fez, inspirando-se no fato de que a Consolata é “Mãe boa”. O título que proporia é este: “A corrente quente do Golfo.”
O que estou para dizer, brota de uma reação minha ao livro do também corajoso e famoso escritor, Sérgio Quinzio (Domande sulla santità: Don Bosco, Cafasso, Cottolengo, 1986).
O autor apresenta os três santos como santos tristes, sob pesadelo, envoltos por grisalha tristeza, esmagados sob o peso do temor do inferno e da sexualidade, etc. Preocupava-me o fato de que Allamano, por ser sobrinho de Cafasso, pudesse ser também um santo triste, sombrio... E aqui se encaixa o meu pensamento: a Teologia Moral daquele tempo constituía, sobretudo no Piemonte, uma situação muito grave. Das valadas dos Alpes chegavam até ao Piemonte, de longa data, correntes espirituais muito frias, que nada mais eram que um “rigorismo intolerável”. Tal rigorismo era sustentado por ótimos sacerdotes e bispos, mas austeros em moral, duros e exigentes, convencidos como estavam de que, usando a austeridade e a dureza como método de formação cristã, no confessionário, na direção espiritual, no incutir mais temor que amor em relação à Eucaristia, fosse mais fácil conduzir os fiéis na senda da perfeição. Os que procuravam desvincular-se deste sistema eram acusados de laxismo. O Bispo Gastaldi, convencido de que o ensino ministrado no Instituto de Pastoral (Convitto Ecclesiastico) era de cunho permissivo, para não dizer laxista, decretou o fechamento do mesmo.

Caberá ao Allamano (que assumira o cargo de Reitor do Santuário da Consolata no começo de outubro de 1880) convencer o Bispo de reabrir o Instituto de Pastoral. O Bispo aceitou mediante uma condição: que Allamano assumisse as aulas de Teologia Moral. Allamano, aceitou o convite do Bispo, mas, por sua vez, também colocou uma condição: queria ter a liberdade de ensinar a Teologia Moral de acordo com a linha de Santo Afonso.

Mas... e a corrente quente do Golfo? Ao sul da ilha de Tarragona, as águas frias e pouco salgadas provenientes dos fluxos árticos encontram-se com as águas quentes da corrente do Golfo, formando uma espécie de muralha ou linha confinante, de sorte que um navio, ao atravessá-la, poderia encontrar-se com a proa nas águas frias e a popa na águas quentes da corrente do Golfo, com a temperatura entre 13 e 14 graus.

Allamano, como professor de Moral, como responsável do Instituto de Pastoral, sobretudo com a experiência de sua longa permanência no Santuário da Consolata, eliminou de Turim e do Piemonte todo resíduo de correntes frias. É este um dos seus maiores merecimentos; é o presente que ele fez à sua diocese. E a nós, missionários, ofereceu o método vencedor da evangelização de todos os tempos: a bondade, a ternura, a “estratégia” para infundir esperança e otimismo, que constitui aquela “corrente quente” do amor, pois somente o amor tem condições de realizar a promoção de toda pessoa proveniente de qualquer origem, ou pertencente a qualquer cultura.

Perguntas para a reflexão

1. Em nossas comunidades fraternas e no campo do apostolado, consideramos que a mansidão é elemento eficaz para não dramatizar os possíveis conflitos, para qualificar-nos como autênticos enviados de Cristo, que se apresentou como “manso e humilde de coração”? Somos capazes de substituir o “confronto” pelo “diálogo”, que nunca se cansa de esperar no outro?

2. O povo quer ver em nós pessoas serenas, porque realizadas, e não evangelizadores tristonhos. Você acredita que é possível unir a “convivência” do compromisso sério, disciplinado e programado com o estilo de Allamano, feito de “informalidade”, de comunicações fluidas, não pré-fabricadas, em que possam germinar relações de irmãos que se doam e se recebem na confiança recíproca, sem sombra de suspeitas?
Pe. Igino Tubaldo, IMC

Ultima modifica il Giovedì, 05 Febbraio 2015 16:55

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